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Fiscais de rótulos

Mães fazem campanha para que embalagens destaquem ingredientes que podem causar alergias; Anvisa vai avaliar mudanças

MONIQUE OLIVEIRA DE SÃO PAULO

Uma campanha encabeçada por 800 mães de crianças alérgicas tem pressionado a indústria de alimentos e os órgãos reguladores a descrever nos rótulos, de forma clara, os ingredientes que mais causam reações adversas.

A ação "#põenorótulo" existe há apenas dois meses, mas já conquistou 34 mil simpatizantes no Facebook e conta com o apoio de entidades como a Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia) e a Proteste (Associação de Consumidores).

Neste mês, representantes da campanha levaram a questão à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e pediram que as embalagens ampliem o obrigatório aviso de "contém glúten" para incluir leite, soja, ovos, amendoim, oleaginosas, peixes, crustáceos e sulfito (aditivo usado para aumentar a vida útil dos alimentos).

Segundo a Anvisa, a norma atual de rotulagem de alimentos já obriga a declaração de todos os ingredientes utilizados no produto, mas, segundo a campanha, esses ingredientes nem sempre aparecem de forma facilmente identificável. No verso do rótulo, em letras miúdas, são comuns nomes técnicos como caseína, lactoglobulina e lactoalbumina, em vez de leite, e albumina ou soroalbuminado, no lugar do ovo.

No Brasil, segundo o Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da USP, 39,5% das crises estão relacionadas a erros de leitura no rótulo.

Outra demanda da campanha é a descrição obrigatória de possíveis traços dessas substâncias em produtos passíveis de contaminação cruzada. Ela ocorre quando uma mesma máquina processa diferentes alimentos, com e sem alérgenos.

Segundo a coordenação da campanha, a Anvisa deverá fazer uma consulta pública em maio para estudar a viabilidade de implantar as modificações. A agência confirma que o processo de revisão das normas já está em andamento e engloba o aperfeiçoamento das informações referentes à presença de ingredientes alergênicos na rotulagem de alimentos.

Mas um dos obstáculos é o fato de que qualquer mudança nas regras de rotulagem deve ser harmonizada entre os países do Mercosul.

"A campanha é importante, mas a implementação não é tão simples porque não há meios técnicos de medir traços mínimos de alergênicos nos alimentos", acrescenta Carlos Eduardo Gouvêa, presidente da Abiad (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres).

Sem informações tão, mães e filhos passam por dificuldades. A administradora hospitalar Fernanda Delabio, 36, já teve que levar seu filho Lucas, 7, à emergência do hospital. Ele é alérgico a soja, trigo, ovo e leite.

"Não basta ler o rótulo. A experiência me ensinou que é melhor ligar no serviço de atendimento ao consumidor e às vezes nem isso adianta", diz Cecília Cury, 34, advogada e mãe de Rafael, 2, alérgico a leite e a soja. Rafael também não come oleaginosas e crustáceos por precaução.

Ela é uma das idealizadoras da campanha e a experiência com o filho a levou a escrever sua tese de doutorado sobre o direito à rotulagem.

Estima-se que um terço da população mundial tenha algum tipo de alergia, mas a população de alérgicos só cresce, segundo Fábio Castro, professor de imunologia clínica e alergia da USP. Uma das possíveis explicações é a maior exposição a alimentos industrializados.

Além de coceira, náusea, inchaço e dificuldade para respirar, as alergias podem gerar uma crise anafilática, que pode levar à morte. A adrenalina é usada em caso de emergência porque ajuda na dilatação dos brônquios. "Ando com uma caneta de adrenalina na bolsa", conta Mariana Claudino, 40, jornalista e mãe de Mateus, 4, que tem alergia a leite.

É por preocupações como essa que as mães brigam para aumentar a conscientização sobre a alergia alimentar. "É difícil na escola, no restaurante ou entre os amigos", diz Cecília. "Clareza nesse tema é fundamental."


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