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Equilibrio

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'Internado no hospital, tive a convicção de que era o Rambo'

DE SÃO PAULO

"Tinha problemas com depressão desde adolescente. Também vivia fases de euforia, mas achava que era normal. Você não vai ao médico quando está bem, certo?

Demorei a ir a um psiquiatra. Nas crises, ia ao psicólogo. Não queria ser rotulado como doente mental.

Com 38 anos tive uma crise profunda. Melancólico, sem força, tentei suicídio. Então fui ao médico. Tive apenas o diagnóstico de depressão e fui internado.

Saí 15 dias depois, medicado, sem desejo de morte e com a sensação que se abria nova oportunidade em minha vida. Estava dominado pelo falso bem-estar proporcionada pelos antidepressivos.

Esse efeito seria temporário: o outro lado iria surgir sob forma de alienígena.

Quando você é bipolar e toma antidepressivo pode ter um episódio de euforia. Foi o que aconteceu. Fiquei muito pior. Ousado, irresponsável.

Chutei o balde, acabei deixando a família e o emprego. Passei a gastar demais. Fui internado de novo.

No hospital, onde fiquei 30 dias, tive a convicção de que era o Rambo. Minha mente girava em uma frequência totalmente anormal, o que me dava prazer. Cheguei a fazer 2.000 abdominais em menos de uma hora, corri à exaustão, tentei pular o muro do hospital. Eu acreditava mesmo que era feito de aço.

Depois de ter mais crises de mania e ir a seis psiquiatras, chegaram à conclusão de que eu tinha bipolaridade.

Quando soube, pensei 'ah que bom, não é falha de caráter'. Foi um grande alívio.

Só fiquei estável depois de três meses de tratamento. Isso já faz uns oito anos.

Escrevi um livro abordando o tema de forma positiva. A bipolaridade tem traços interessantes. Sou mais sensível, sou carismático. Hoje minha família tem orgulho de mim. Antes, tinha vergonha.

Nunca mais tive uma crise. Eu gostava de ficar eufórico. Dizem que o bipolar está duas doses de uísque acima do resto da humanidade. Parece bom, mas a que preço?"


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