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Depoimento

Murmúrios da espera por notícias deram lugar ao silêncio

MARINA DIAS ENVIADA ESPECIAL A SANTOS

Acordei de sobressalto às 8h20 desta quarta-feira (13). O despertador não tinha tocado e eu estava atrasada. Era um dia comum. Deveria acompanhar o candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, como fazia desde maio. Às 10h30, ele estaria em Santos (SP). Ele não costumava se atrasar. Eu precisava correr.

Às 9h20, a caminho da Baixada Santista, mandei mensagem para Carlos Percol, assessor de imprensa do candidato. Perguntei sobre a "Praia do Mercado", endereço que aparecia na agenda oficial de Campos como ponto de encontro da caminhada que, soube depois, ele decidiu fazer de última hora.

"Descobrimos onde é a Praia do Mercado? Acho que isso não existe em Santos", escrevi. "Só o Pai sabe, estamos decolando", respondeu. "Amém", retruquei. Ah, se eu soubesse ali...

Cheguei a Santos debaixo de chuva. Era perto das 11h e eu estava na estação das barcas, onde pegaria a "catraia" para o Guarujá (SP). Campos daria uma entrevista coletiva na Casa do Norte da cidade.

Estranhei Percol não ter mandado o tradicional "chegamos". Ele ficava em contato o tempo todo com os jornalistas via redes sociais. Já fazia mais de uma hora e meia que tinham decolando do aeroporto Santos Dumont, no Rio. "Bobagem", pensei.

Foi então que recebi uma mensagem no celular: "Viu que um avião caiu em Santos?". Não, não tinha visto, e confesso que não dei muita importância naquele momento. Li a notícia em voz alta para outros dois colegas. Foram necessários alguns segundos para que concluíssemos: "Pode ser o dele".

Meu primeiro impulso foi ligar para o celular de Eduardo Campos. Caixa postal. Resolvi tentar Pedro Valadares, seu assessor pessoal, mas recebia o mesmo aviso: "Deixe seu recado". Senti um soco no estômago. Eram eles.

Jornalistas e militantes do PSB assistiam à TV da Casa do Norte apreensivos. Tentei me aproximar do deputado Márcio França (PSB), candidato a vice na chapa à reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e um dos principais aliados de Campos. Ele não saía do telefone. O semblante era terrível. Resolvi esperar.

Atendi à ligação de um número desconhecido. Do outro lado, uma fonte me dizia: "Tive acesso à lista de embarque no Santos Dumont. Eram eles". Inacreditável.

Corri para perto de França, que ouvia cochichos de assessores. "O avião era o do Eduardo", pude escutar o murmúrio. Quando a Aeronáutica confirmou a lista das pessoas que estavam no avião, a notícia começou a ser estampada: "Morre Eduardo Campos". Ninguém mais falou.

Veio o silêncio do entorno e o "amém" que mandei a Carlos Percol. Foi a única vez que ele não respondeu se Eduardo chegaria a tempo.


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