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Mais médicos fora do lugar

Para atender a pedidos de todas as prefeituras, bandeira eleitoral de Dilma envia profissionais para áreas menos carentes do Sul, sem priorizar sufoco de municípios do Nordeste do Brasil

JULIANA COISSI PATRÍCIA BRITTO DE SÃO PAULO FELIPE BÄCHTOLD ENVIADO ESPECIAL AO INTERIOR DO RS

A estratégia do governo Dilma de distribuir ao menos um profissional do Mais Médicos a todas as prefeituras que fizeram essa solicitação manteve no sufoco municípios onde a carência está acima da média nacional.

O programa, lançado em 2013 e uma das principais bandeiras da campanha à reeleição da presidente, está espalhado por 3.780 municípios, com 14 mil médicos, sendo 79% deles cubanos.

A maioria desses profissionais foi para cidades das regiões Nordeste, Sudeste e Sul.

Uma cota de 1.660 municípios, porém, recebeu apenas um novo médico -sendo 539 do Sul e outros 446 do Nordeste, segundo dados obtidos pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação.

Um deles é São Vendelino (RS), a cerca de 90 km de Porto Alegre, onde predominam descendentes de germânicos e só quatro famílias recebem o benefício do Bolsa Família.

O cubano Dixan Escalona Salazar, 32, atua no único posto de saúde da cidade -de 1.944 habitantes e que, antes de sua chegada, já contava com outros cinco médicos.

Lá, a demanda por consultas parece ser atendida com folga, com a ajuda de uma unidade do município vizinho.

"Ele [novo médico] vem atender uma demanda extra que a gente não conseguiria atender com os nossos profissionais. E, com isso, o povo fica muito satisfeito e politicamente dá um retorno", afirma o vice-prefeito Evandro Schneider (PT).

Situações opostas vivem municípios de Norte e Nordeste, regiões que, antes do programa, tinham 2,21 postos médicos ocupados para cada mil habitantes, quase a metade dos 4,08 de Sul e Sudeste, segundo a pesquisa "Demografia Médica no Brasil".

Teresina expõe um desses opostos. Com 840 mil habitantes e longas filas em postos de saúde por falta de médicos, a capital do Piauí não tem hoje nenhum profissional do programa federal.

Os dois únicos em atuação na cidade desistiram do Mais Médicos, e o ministério não tem prazo para a reposição.

"É um critério muito aberto. A questão não é negar a quem precisa, mas priorizar quem mais precisa", afirma o cientista político da FGV-SP Marco Antonio Teixeira.

SONHO

Garanhuns (PE), com 136 mil habitantes e seis ambulatórios de saúde na zona rural sem médicos fixos, é uma das 446 cidades nordestinas que receberam só um médico.

"É muito pouco perto do que a gente sonha", disse o secretário da Saúde, Arlindo Ramalho Neto, que se declara "fã do programa" e "sonha" com mais dez médicos.

Para Ricardo Ismael, cientista político da PUC-RJ, municípios com menor demanda deveriam esperar na fila, já que "o objetivo-fim do programa é tentar reduzir essa desproporção" pelo país.

Segundo o Ministério da Saúde, ao menos um médico foi enviado a todos os município solicitantes porque o governo atraiu um número suficiente de profissionais para expandir o programa.

Situações como a de Teresina e Garanhuns se repetem no Norte e Nordeste. Há cidades que pediram quatro médicos, por exemplo, mas só receberam um. São os casos de Barcarena (PA), com 112 mil habitantes, Aurora (CE), 24 mil, e Croatá (CE), 17 mil.

"É uma estratégia mais política do que técnica, mas que faz sentido, porque os prefeitos poderiam dizer que se está tratando diferentemente os de partido A ou B", afirma o presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, Luís Eugênio Portela.


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