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Eleições 2014

...E o voto levou

Derrotado após cumprir mandato de 24 anos no Senado, Eduardo Suplicy diz que se despede com dívida de R$ 500 mil, mas sem arrependimentos; ele rechaça qualquer hipótese de deixar o PT

ANNA VIRGINIA BALLOUSIER CATIA SEABRA DE SÃO PAULO FLÁVIA FOREQUE DE BRASÍLIA

No sofá da sala --cercado de livros e fotografias da família --o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) ouve, calado, o desabafo do caçula, o músico João Suplicy.

"De dinheiro? A campanha não teve nada. O PT não deu um puto", reclama João, ao ser questionado sobre o tratamento reservado ao pai pelo seu partido, o PT.

"E agora ele poderia ficar mais com netos, mas vai trabalhar para Dilma", reage João, encerrando sua queixa com uma careta.

Derrotado após 24 anos de mandato, Suplicy esperava ainda ontem por um telefonema da presidente Dilma Rousseff e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.

Enquanto conversava com a reportagem, quem ligou foi seu irmão, Paulo.

"Foi triste", reconheceu ao telefone o senador.

DÍVIDA

Além do candidato derrotado ao governo de São Paulo Alexandre Padilha, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, conversou com Suplicy pós-derrota. Pediu que ele permanecesse em São Paulo para colaborar na campanha de Dilma.

Nesta terça, Suplicy foi a Brasília. Em discurso no plenário que agora se despede, revelou ter encerrado a disputa com uma dívida de R$ 500 mil. À Folha, contou ainda que o partido incluíra, na sua conta, despesas com assessoria política.

"Até o presente, consegui arrecadar R$ 2,5 milhões. Os gastos somam R$ 3 milhões. O PT ainda colocou como minha responsabilidade o contrato de assessoria política, algo como R$ 250 mil", revela.

Ao avaliar a arrecadação, Suplicy admite que a decisão de publicar as doações em tempo real pode ter afugentado colaboradores.

Ele lembra que, em 2002, sugeriu a medida numa reunião do Diretório Nacional do PT, mas o então tesoureiro, Delúbio Soares, abortou a proposta, sob o argumento de que inibiria contribuições.

Ele chega a reconhecer que sua postura pode ter azedado sua relação com o correligionário. "Se em alguns momentos houve erros e desvios de procedimentos, como no caso do mensalão e da Petrobras, são erros graves que precisam ser prevenidos e corrigidos", disse.

ARREPENDIDO

Ao responder se está arrependido de ter rejeitado a sugestão do PT para que concorresse à Câmara dos Deputados ou que fosse mais agressivo na disputa com José Serra (PSDB), que saiu vencedor da disputa, afirmou: "Não me arrependo de nada".

Apesar da dissonância com o PT, Suplicy rechaça a hipótese de deixar a sigla.

Na segunda, um após a derrota, ele caminhou até um shopping center de São Paulo para ir ao cinema. No caminho, ouviu mensagens como "a esperança é a última que morre".

Suplicy encontrou Mano Brown na pré-estreia de "Na Quebrada", filme estrelado por dois filhos do rapper.

"Viu o Alckmin ali? O vilão!", disse Mano ao avistar o governador de São Paulo no evento. O rapper lamentou o resultado:

"A minha quebrada vai sentir falta dele. O pessoal tá votando muito com a cultura do medo. E acham que PSDB é polícia na rua", diz Mano ao senador que, em 2007, arrancou risadas de seus pares ao cantar o rap "Homem na Estrada" na Comissão de Constituição e Justiça, simulando inclusive tiros de revólver ("pá, pá, pá").

'NÃO COLA'

No último domingo, José Serra obteve 11,1 milhões de votos (58,49% do total válido), contra 6,17 milhões de Suplicy.

Para o cientista político Roberto Romano, o PT perdeu eleitorado em São Paulo, especialmente na periferia, por flertar com o liberalismo ao mesmo tempo em que busca o discurso de esquerda. "O PT se colocou como esquerda, mas se aliou ao ranço da política e isso não cola".

No plenário, Suplicy destacou sua ação no Senado, afirmou ter convicção de ter cumprido com o dever, e prometeu continuar a "batalha".


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