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HUGO CHÁVEZ - 1954-2013

Com bandeira anti-EUA, líder criou alianças e inimigos

Apoiado no dinheiro do petróleo, ele moveu guerra retórica contra Washington e converteu China em sócio estratégico

Na região, presidente deu sobrevida a Cuba, usou petrodiplomacia para influir e se aliou ao Brasil e à Argentina

DE SÃO PAULO

Em quase 14 anos no poder, Hugo Chávez usou o dinheiro do petróleo e a determinação de construir alianças alternativas aos EUA para inscrever a Venezuela no mapa geopolítico regional e, em certa medida, mundial.

O desaparecimento de Chávez e o cenário de novas eleições no país no curto ou médio prazo lançam incertezas sobre elos estratégicos construídos pelo esquerdista, especialmente sobre a permanência da aliança carnal com o regime comunista de Cuba, a quem o venezuelano deu sobrevida econômica.

Disposto a encarnar o papel de delfim político do ex-ditador cubano Fidel Castro, o presidente abraçou a bandeira anti-imperialista para combater a histórica influência americana nos negócios petroleiros, na política e nos quartéis venezuelanos.

Não viveu para ver os EUA deixarem o posto de primeiro sócio comercial da Venezuela, mas diversificou os mercados compradores de petróleo -com destaque para a China, hoje o maior credor do país, numa guinada que até economistas críticos do governo elogiam ante a perspectiva de autossuficiência energética dos EUA nos próximos 15 anos.

Descontados momentos agudos como a tentativa de golpe contra Chávez em 2002, apoiada pelos EUA, a convivência conflituosa com o "império" ganhou manchetes folclóricas -por exemplo, no performático discurso de Chávez na ONU em 2006, chamando George W. Bush de "diabo"-, mas não chegou ao nível dos embates dos americanos com outras revoluções.

Para Carlos Romero, professor da Universidade Central da Venezuela, a radicalidade comedida de Chávez no plano econômico e o desaparecimento da Guerra Fria permitiram "acomodação" entre Washington e Caracas no século 21, especialmente sob Barack Obama: "A revolução bolivariana não ameaçava os interesses americanos como a sandinista na Nicarágua".

A plataforma petrolífera, por meio da Opep (organização dos exportadores), e o antiamericanismo também fizeram Chávez forjar uma de suas relações mais controversas: com o Irã de Mahmoud Ahmadinejad. Caracas, sob Chávez, tornou-se a maior aliada de Teerã no Ocidente e serviu como ponto de partida para relações iranianas -e também sírias- com governos de esquerda na região.

SOCIALISMO EXPORTADO

Mas foi na frente regional que a agenda de Chávez se fez sentir com mais força. Ele recuperou os ideais integracionistas de seu herói, Simón Bolívar (1783-1830), para dar à sua amadora -mas muito ativa- chancelaria poder e principalmente dinheiro.

Desembaraçado de prestar contas de qualquer tipo na Venezuela, o presidente fez de sua "petrodiplomacia" um novo nível do ativismo ensaiado por antecessores.

O auge da política, quando a ofensiva ganhou ares de "exportação do socialismo do século 21", foi de 2006 a 2008, antes da crise global, que derrubaria os preços do petróleo.

No período, instalou-se "competição sutil" entre Brasília e Caracas, disputando mentes e inclinações políticas de governos da região.

A relação com o Brasil, porém, teria como notas principais o lucrativo intercâmbio comercial, a cooperação para fazer a Unasul (União das Nações Sul-Americanas) e a Celac (Comunidade dos Estados Latino-americanos e do Caribe) e, por fim, a entrada de Caracas no Mercosul.

Foi também na época de abundância econômica que Chávez investiu em seu arsenal militar. Tentou comprar aviões militares da Embraer, operação vetada pelos EUA, e caiu nos braços da Rússia, tornando a Venezuela a terceira maior compradora de armas russas no mundo.

Chávez gastou estimados US$ 10 bilhões com os caças Sukhoi-30, os mais poderosos do continente, e sistemas antiaéreos de ponta. Deixa a Venezuela num momento de baixa tensão regional, passada a fricção que marcou o embate entre ele e Álvaro Uribe, na Colômbia (2002-2010).

Na ausência de Chávez, quem lideraria o anti-imperialismo na América Latina? Não há aposta única, e a maioria dos analistas diz que ninguém reúne as características necessárias ao papel.

Para o jornalista americano Jon Lee Anderson, só a argentina Cristina Kirchner parece disposta a jogar com os mesmos elementos de vigor retórico e críticas ao capitalismo. Já Heinz Dieterich, alemão radicado no México e autor do conceito "socialismo do século 21", desconsidera a pequena economia equatoriana para dizer que o herdeiro é o irascível Rafael Correa.


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