São Paulo Paulo, Sexta-feira, 23 de Julho de 1999




Buscar só o lucro pode
prejudicar o futebol

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Tem havido, nos últimos tempos, uma pressa muito grande em identificar a modernização do futebol com a adoção da ideologia do mercado todo-poderoso.
O clube-empresa, altamente competitivo (em termos capitalistas), é o modelo ideal dessa ideologia aplicada ao esporte.
É impossível ir contra essa maré, mas vale lembrar que esse processo não é assim tão simples, nem isento de contradições. O professor Marcelo Weishaupt Proni, da Unicamp, tem uma tese de doutorado esclarecedora sobre isso.
O futebol é um organismo complexo, que envolve paixões, apego a tradições, laços de identidade etc. Não pode ser tratado como mero negócio, sob o risco de matar sua galinha dos ovos de ouro.
Um exemplo dos limites do modelo clube-empresa é a revolta dos torcedores do Manchester United contra a venda do clube a um grande conglomerado.
No Brasil, a ideologia do mercado sem freios aumentou o desemprego e a concentração de renda, sucateou os serviços públicos, reduziu a cultura a uma parada de sucessos pré-fabricados.
No futebol, ela ameaça criar um abismo entre uns poucos grandes clubes capitalizados e o “resto”: um sem-número de clubes falidos, transformados em meros coadjuvantes pela incapacidade material de competir.
Dirão os neoliberais: “Azar deles; quem não tem competência não se estabelece”. Ledo engano.
Longe de significar um prêmio à incompetência, uma política de preservação dos pequenos e médios deveria ser vista como necessária à sobrevivência da diversidade (geográfica, até) e da qualidade do futebol brasileiro.
Do contrário, veremos num futuro próximo os títulos serem disputados eterna e tediosamente pelos mesmos times. Ou pior: pela Coca-Cola e pela Pepsi.


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