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Buscar só o lucro pode
prejudicar o futebol
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Tem havido, nos últimos tempos, uma pressa muito grande em identificar
a modernização do futebol com a adoção da ideologia
do mercado todo-poderoso.
O clube-empresa, altamente competitivo (em termos capitalistas), é
o modelo ideal dessa ideologia aplicada ao esporte.
É impossível ir contra essa maré, mas vale lembrar
que esse processo não é assim tão simples, nem isento
de contradições. O professor Marcelo Weishaupt Proni, da Unicamp,
tem uma tese de doutorado esclarecedora sobre isso.
O futebol é um organismo complexo, que envolve paixões, apego
a tradições, laços de identidade etc. Não pode
ser tratado como mero negócio, sob o risco de matar sua galinha dos
ovos de ouro.
Um exemplo dos limites do modelo clube-empresa é a revolta dos torcedores
do Manchester United contra a venda do clube a um grande conglomerado.
No Brasil, a ideologia do mercado sem freios aumentou o desemprego e a concentração
de renda, sucateou os serviços públicos, reduziu a cultura
a uma parada de sucessos pré-fabricados.
No futebol, ela ameaça criar um abismo entre uns poucos grandes clubes
capitalizados e o resto: um sem-número de clubes falidos,
transformados em meros coadjuvantes pela incapacidade material de competir.
Dirão os neoliberais: Azar deles; quem não tem competência
não se estabelece. Ledo engano.
Longe de significar um prêmio à incompetência, uma política
de preservação dos pequenos e médios deveria ser vista
como necessária à sobrevivência da diversidade (geográfica,
até) e da qualidade do futebol brasileiro.
Do contrário, veremos num futuro próximo os títulos
serem disputados eterna e tediosamente pelos mesmos times. Ou pior: pela
Coca-Cola e pela Pepsi. |