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Juca Kfouri
Paulo André no pelourinho
Como nos tempos da ditadura, há quem ache que jogador tem apenas que jogar futebol; pode?
NA DITADURA, estudante tinha que estudar, trabalhador tinha que trabalhar, cantor tinha que cantar e escritor, escrever.
Jornalista não podia noticiar. Criticar, então, nem pensar.
Um dos líderes do Bom Senso F.C., um dos, mas seu principal porta-voz, Paulo André passou a ser visto pela mediocridade que insiste em castigar o país como o Judas a ser malhado por suas posições iluministas.
A reação absurda teve a ver com o mau momento do Corinthians e escolheu como alvo o capitão do time.
É sabido que a Democracia Corintiana saiu-se bem porque o time ganhou o bicampeonato paulista em 1982/83, por mais que entrasse em campo com a faixa que dizia "Ganhar ou perder, mas sempre com Democracia".
Diferentemente daquele movimento, restrito a apenas um clube, o Bom Senso F.C. tem alcance nacional com representantes no Cruzeiro, campeão nacional, no Galo, campeão continental, no Flamengo, campeão da Copa do Brasil e por aí afora.
Mas Paulo André foi escolhido para levar paulada no pelourinho.
Num momento mais difícil para o BSFC porque de campeonatos estaduais que dividem as atenções do país, ao contrário do Brasileiro quando o foco é um só, os que ainda acham que pé de atleta tem cura, mas cabeça não, se aproveitam para disseminar o discurso obscurantista.
E incomodaram o zagueiro alvinegro que talvez nem devesse dar bola às vozes do atraso.
Nos próximos dias o BSFC apresentará rico material para discutir como sair do atoleiro em que se encontra nosso futebol, com propostas de calendário e fair play financeiro realmente inovadoras e eficazes, fruto da reunião das melhores formulações possíveis desde que Charles Miller trouxe as primeiras bolas de futebol ao Brasil.
Em última análise, propostas óbvias, a favor da luz elétrica e da água encanada, que não prejudicam ninguém de boas intenções, só os que se beneficiam da falta de transparência e da burrice que insistem em sobreviver neste grande e apaixonante negócio chamado futebol.
Mas Paulo André acompanhará tudo lá da China porque ficou dividido sobre a questão posta no diálogo brechtiano entre Andreas e Galileu: "Pobre do povo que não tem herói ou pobre do povo que precisa de herói"?
O DÉRBI
Reza a lenda que, quando Corinthians e Palmeiras jogam em situações opostas, quem está pior ganha.
As estatísticas não autorizam, mas sempre que a lenda prevalece fica reforçada --e não adianta demonstrar que não é bem assim, porque prevalece a versão.
No domingo, no Pacaembu, hoje casa dos dois, o favoritismo verde é flagrante e tudo de que o rival precisa para sair da lama é fortalecer a lenda.
Razão pela qual será bom que os palmeirenses ponham as barbas de molho. Quer saber? Já puseram.