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Entrevista - Muricy Ramalho

Assim como o Telê, eu não relaxo, quero resolver tudo

Técnico supera hoje ex-treinador morto em 2006 em números de jogos no comando do São Paulo e elege Telê Santana como referência

Muricy Ramalho, 58, escreverá um novo capítulo na sua história pelo São Paulo assim que entrar no Pacaembu para o duelo com o CRB, hoje, às 22h, pela Copa do Brasil.

Ele completará o jogo de número 412 e irá superar Telê Santana como o terceiro técnico que mais comandou o clube. Ficará atrás apenas de Vicente Feola, que tem 532 jogos, e José Poy, com 422.

Mas engana-se quem pensa que Muricy se empolga com a marca. À Folha ele disse que o novo recorde não muda seu dia a dia e exaltou Telê, a quem atribuiu parte de seu sucesso e de quem admite ser um seguidor.

Folha - O que significa superar Telê e se tornar o 3º técnico com mais jogos no São Paulo?
Muricy Ramalho -- A sensação é boa. Atingir uma marca como essa é difícil. Há uma sensação de dever cumprido. Mas é só isso. Não penso em bater recordes. Ainda mais tendo pessoas de respeito na lista. O Poy foi meu treinador no juvenil. Já o Telê foi meu treinador [em 1973, no São Paulo] e depois me deu a oportunidade para começar como técnico [nos anos 90].

Telê foi quem mais te incentivou a seguir a carreira?
O São Paulo tinha um plano de formar um técnico para substituir o Telê quando ele parasse. O clube tentou, mas ninguém se adaptou. Como eu estava na base, era comum substituir Telê durante as férias. Telê achou por bem me promover ao profissional para poder me preparar. Ele ficou doente [em 1996] e assumi antes do esperado.

Por que as pessoas diziam que você era o braço direto dele?
O Telê não era de formar grupos, panelas. Ele era um mineiro desconfiado. Mas eu sabia o meu lugar, o lugar dele e o respeitava muito. Ele sabia que eu não tentaria tomar o lugar dele. Pelo contrário. Quando assumia o time, sempre telefonava para consultá-lo sobre a escalação. Por isso ele confiava em mim.

Você costumava ligar para discutir a escalação que iria usar?
Sempre. Nunca gostei de passar por cima. Ele era o treinador. Ligava para o Telê, até amolava um pouquinho, e dizia como eu pensava o time. "Você faz o que você quer e o que for adequado. Eu confio em você", ele respondia.

O que aprendeu e usa até hoje?
A repetição dos fundamentos. Hoje o jogador vira profissional e pensa que não tem de treinar mais os fundamentos. Antigamente era assim. O Telê insistia demais com aqueles que tinham dificuldade. Ele dizia que a repetição melhorava o jogador.

Quais suas principais semelhanças com o Telê?
No comando, somos parecidos em tudo. Nós dirigimos muitos clubes grandes e, se você não tiver comando, você não sobrevive. Você pode ter todos os requisitos e especialidades, mas sem comando não aguenta a pressão. O São Paulo é muito grande.

Você citou que Telê era muito intenso e isso afetou a saúde dele. Mas você teve problemas de saúde no Santos, em 2013. Vê alguma semelhança?
Tive dois problemas sérios. Um na coluna e uma crise de diverticulite [no intestino], perigosa. As pessoas que me trataram chegaram a conclusão de que a causa era o estresse. Eu não relaxo, quero resolver tudo. O Telê também era assim. Observando-o, cheguei à conclusão de que Telê ganhou muitos títulos exatamente por ser muito intenso. O Telê foi minha escola. Esse caminho foi o que eu escolhi. Mas, até pelo que o vi passar, não quero alongar a carreira. Ele ficou doente por causa do futebol [sofreu uma isquemia na artéria carótida, aos 64 anos, em 1996, e não voltou mais a treinar; morreu em 2006, aos 74]. Ele ficava o tempo todo no clube. Isso o prejudicou. Sei que se alongar a carreira vou ter os mesmos problemas. Tive dois avisos e tenho pensado nisso para decidir quando parar.

Como você o ajudava?
Buscava as informações dos adversários. Viajei toda a América do Sul. Vi o Vélez [rival na final da Libertadores-94]. Ninguém conhecia o time e o [goleiro] Chilavert.

Qual o legado do Telê?
Eu tive uma educação muito rígida do pai, que me ensinou a ser correto. E encontrei isso no Telê. Ele falava que no futebol havia muitas facilidades, mas que eu tinha de ser correto. E que nunca deveria deixar alguém me mandar embora por falta de trabalho. Poderiam me mandar embora por outros motivos, mas nunca por falta de trabalho.

Como resumiria Telê?
Simples: Telê é um cara diferente, não é igual aos outros.


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