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A minha Copa

Estávamos apaixonados

Compartilhei com Mané Garrincha sua filosofia Mahatma Gandhi, sem se importar com salários e carrões, nada usual no 'Brazil' Tio Sam

POR ELZA SOARES

Assistindo pela TV a chegada dos jogadores na concentração da seleção em Teresópolis, fui transportada no tempo para perto de um homem, a maior estrela da seleção brasileira. Seu nome: Mané Garrincha.

Filosofia de vida Mahatma Gandhi """Nasci nu, estou vestido". Um homem tão simples que nunca se importou com salário, mansões, carrões, patrocínios. Será, Deus, sou tão forte assim? E compartilhei dessa filosofia, que até pode ser a certa, mas não usual na terra do "Brazil" Tio Sam.

Em 1962, as coisas não eram bem assim. O futebol era chuteiras e bandeiras, sem dólares e sem euros. Era a pátria.

Me vi batizando, sem padre, sem vela, sem água, sem nada, um grupo de craques, jogadores fantásticos que me fizeram compreender o significado do que vem a ser a "alegria de um povo".

Fui contratada por Edmund Clinger, empresário uruguaio, que me levou para cantar e batizar a seleção brasileira. Era um time nos campos e outro nos palcos, Lucho Gatica, Louis Armstrong, entre outros.

Já nessa época, além das pernas tortas, eu vi um Mané maltratado pela marcação dos seus adversários em campo, mas que não se rendia às pancadas que tomava no joelho.

Pelé saiu contundido e foi substituído pelo Amarildo. Uma cena da qual não me esqueço, o simples Mané se agigantou de uma tal forma quando recebeu uma cuspidela no rosto de outro jogador, pela primeira vez revidou e acabou sendo expulso. Ao ser expulso ainda levou uma pedrada na cabeça arremessada por um torcedor. Por força maior e comoção popular ele voltou aos gramados com a cabeça enfaixada. Quem viu, viu! Quem não viu, jamais verá coisa igual.

Esse homem que nunca soube da sua grandeza. Enquanto no final da Copa ganha Carlos Lacerda presenteava os jogadores com o que eles bem desejassem, volta o Mané com a filosofia Mahatma Gandhi: "meu governador, só quero um passarinho que fale. Já me contenta, não quero mais nada" e completou, "já tenho minha crioula."

Quem não se lembra de um cãozinho que fez o Garrincha andar de cócoras em campo até agarrá-lo. Dias depois, o recebemos em casa como presente. O bairro da Urca parou para receber o ilustríssimo mascote "Bi", nome que recebera em homenagem ao bicampeonato da seleção.

Estávamos totalmente apaixonados em todos os sentidos. A bola estava para o Mané, assim como a música ainda hoje está para mim.

Brincávamos nesse dueto. Relembrando sua música preferida "Eu sofri demais quando partiste / Passei tantas horas triste / Que nem quero lembrar esse dia /Mas de uma coisa podes ter certeza / O teu lugar aqui na minha mesa / Tua cadeira ainda está vazia". Na verdade, acho que todo o Brasil lamenta a sua cadeira vazia.


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