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'Eu teria todas as possibilidades de chegar à medalha de ouro'

ATLETISMO Vanderlei Cordeiro relembra dez anos do ataque em Atenas

RODOLFO LUCENA DE SÃO PAULO

A cena está gravada na memória do atletismo brasileiro e de todos que viram as imagens pela televisão: o ex-boia-fria Vanderlei Cordeiro de Lima, então com 35 anos, liderava a maratona olímpica dos Jogos de Atenas-2004 quando se deu a confusão.

A câmera, que vinha fixa no brasileiro, perde o rumo. Logo o encontra num bololô, caído na beira da calçada, enquanto um grandalhão sai em seu socorro. Imagens recuperadas pela TV mostram o inesperado: Vanderlei fora agarrado, empurrado, derrubado ao chão por um sujeito que vestia fantasia estranha, com barrete e meiões verdes.

Tratava-se de Cornelius Horan, um ex-padre irlandês. Para Vanderlei, não importava. O ataque, na altura do km 36 da prova de 42,195 km, poderia provocar até o abandono. Conseguiu continuar, mas perdeu terreno para seus perseguidores e acabou ficando em terceiro lugar.

Era a tarde de 29 de agosto de 2004. Dias atrás, quase dez anos após o evento, Vanderlei disse: "Eu teria todas as possibilidades de chegar à medalha de ouro."

FOLHA - Dez anos depois da maratona de Atenas, qual a primeira coisa que vem à sua memória?

VANDERLEI CORDEIRO DE LIMA - O que vem na memória é a corrida, a conquista. Já foram dez anos, nem parece que passou tanto tempo. A velocidade do tempo é cruel. Mas são só boas lembranças.

E a agressão?

Foi um incidente, um episódio externo. Mesmo diante daquela situação, ainda se superando e enfrentando a dificuldade da corrida, sempre naquela busca constante, conseguimos um grande objetivo. Minha conquista da medalha de bronze é muito mais significativa do que a lamentação por não ter ganhado a medalha de ouro devido ao incidente.

O senhor tinha uma grande vantagem naquele momento, mas os rivais estavam chegando. Acredita que conseguiria mantê-la e conquistar o ouro?

Veja bem: você disse que eles estavam chegando. Mas daí aconteceu o incidente. Acabei voltando para a prova. É claro que você não se recupera assim instantaneamente para retomar a prova. Na verdade, eu me superei para me manter na prova..

Em condições normais, com a diferença que eu tinha, é difícil falar que a vitória era minha, com certeza. Eu não vou ser tão imprudente quanto foi o [italiano Stefano] Baldini [campeão da maratona olímpica de 2004], em uma entrevista. O repórter perguntou se ele tinha plena certeza de que seria o campeão, e a resposta dele foi que, independentemente de qualquer coisa que tivesse ocorrido na prova, ele seria o campeão de qualquer forma. Eu teria tudo, pela minha sensibilidade, para ganhar a medalha de ouro se nada tivesse acontecido. Mas eu não posso afirmar, seria imprudente dizer que eu seria o vencedor.

O senhor encerrou a carreira em 2008. Ficou rico?

Rapaz: quem não tinha um gato para puxar pelo rabo, vai reclamar do quê? Tudo o que tenho hoje, as minhas conquistas, foi através do esporte. Consegui dar uma condição diferenciada para a minha família, o que para mim antes era inimaginável..

Eu realizei um grande sonho, sonho de um ex-boia-fria, que era ter uma propriedade rural. Tenho um sítio na minha cidade natal, Cruzeiro do Oeste, a 150 km de Maringá. Eu fico ali trabalhando, me ocupando nos serviços.


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