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Jogadores relatam emoções e angústias de rebaixamentos

SÉRIE A Saiba como atletas que caíram para a Série B lidaram com ameaça de torcidas e carreiras manchadas

DE SÃO PAULO

Acusações de desinteresse, pressão e ameaças de agressões por torcedores, desequilíbrio com a falta de resultados e tristeza.

As situações que rondam o cotidiano de jogadores do Palmeiras não são inéditas.

Elas se repetem a cada temporada e com cada time ameaçado de descer de divisão.

A Folha conversou com jogadores e ex-atletas que viveram de perto a ebulição de emoções e reações adversas que o rebaixamento de um clube grande provoca.

O goleiro Márcio, que caiu com o Grêmio em 2004, nem queria falar sobre o descenso. O volante Rafael Miranda, rebaixado com o Atlético-MG em 2005, contou o clima de guerra entre jogadores e torcedores. O atacante Finazzi, do Corinthians de 2007, disse não ter sentido pena das cenas de desespero protagonizadas pela torcida. E o goleiro Felipe, seu antigo companheiro de time e hoje no Flamengo, falou sobre o aspecto psicológico de um grupo abatido.

FINAZZI (CORINTHIANS)

Ficava chateado ao ver um torcedor chorando, mas não tinha dó. Eu estava sentindo mais do qualquer um deles. Também não sentia culpa, porque sabia que eu estava jogando bem.

Não sei se todos os jogadores são iguais. Não sei o que passa no coração de cada jogador.

Passei por 33, 34 times diferentes na minha carreira. Tive momentos bons e ruins, mas sempre vivi 100% do dia a dia do clube. Vivi cada derrota, cada vitória, igualzinho os torcedores dos clubes. Mas não acredito que todos os jogadores sejam da mesma maneira que eu sou.

A gente teve várias reuniões com a torcida organizada. Eu consegui o respeito deles, até intermediava, acalmava os ânimos na hora. Mas sei que teve gente que sofreu bastante.

Jogadores foram ameaçados. Alguns casos foram na rua, mas também ligaram na casa deles.

FELIPE (CORINTHIANS)

Você sempre quer entrar para a história de um clube, mas não desse jeito. Para mim foi um ano bom. Era minha chance em um time grande de um centro como São Paulo, eu estava bem e consegui adiar um pouco esse rebaixamento.

Mesmo assim, tinha medo. Você nunca sabe o que passa na cabeça de um torcedor. Então, parei de ir a shopping, cinema, praia.

Neste momento, quase todo mundo quer ficar escondido. A gente sabe que o torcedor acha um afrontamento ver o jogador na farra. Até por isso, eu preferia evitar. Nunca teve isso comigo.

Com essa pressão toda, nem dá para se concentrar no jogo. Você vai a campo preocupado.

O pior é quando você já está naquela fase em que depende de outros resultados. Não dá para jogar pensando nos outros jogos. Você joga com um "radinho" no ouvido.

R. MIRANDA (ATLÉTICO-MG)

Em cima de mim, não teve agressão física. Mas a torcida quebrou ônibus. Várias vezes tivemos que sair escoltados do hotel e do aeroporto.

Essa situação de você descer no aeroporto e ter que ser escoltado para não ser agredido é uma das cenas que mais me incomodava. Parecia que eu era um bandido que tinha que ser protegido para não apanhar do povo revoltado.

Para piorar, teve um torcedor que invadiu o campo em São Januário no jogo contra o Vasco para atacar o Rubens Cardoso [lateral], e o [volante] Walker não deixou e acertou ele antes.

Tinham jogadores que andavam com segurança, carro blindado, principalmente depois da briga no aeroporto que aconteceu por causa da confusão em São Januário.

MÁRCIO (GRÊMIO)

Estou parado quase há um ano inteiro e tenho que ficar falando sobre rebaixamento, que é uma coisa que me rotulou. Essas coisas ficam marcadas no jogador, o torcedor sabe disso. A gente caiu em uma situação parecida com a do Palmeiras. Perdemos muitos mandos de campo, jogamos fora da nossa casa. Isso atrapalhou.

Outra semelhança é a torcida. Muita revolta, protesto. Eu era reserva do Tavarelli, entrei em um jogo do primeiro turno e assumi a vaga.

Até hoje lembram disso. Um torcedor vai falando para o outro e ninguém esquece.

Internamente não tinha cobrança, nada nos atrapalhava. Eu era emprestado pelo São Paulo e, após a queda, renovei e fiquei para 2005. Joguei Estadual e Copa do Brasil. No começo da Série B, voltei para o São Paulo.


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