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Cao Guimarães exibe filmes sobre solidão

Itaú Cultural reúne produção audiovisual do artista mineiro que se firmou com obra sobre personagens marginais

Longas 'Andarilho' e 'A Alma do Osso' estão em ciclo de filmes; curtas, como 'Hypnosis', terão projeção contínua

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Cao Guimarães é um andarilho -com uma câmera. Desde que começou a fazer filmes na cozinha de seu apartamento em Londres no fim dos anos 1990, o artista vem construindo uma espécie de "inventário dos pequenos fenômenos expressivos da vida".

Isso pode ser uma bolha de sabão que atravessa os cômodos de uma casa, formigas carregando confetes, uma semente que entra pela janela, flutua pelos quartos e morre afogada na privada, ou as luzes coloridas de um parque de diversões filmado à noite.

Ele trabalha quase sempre sozinho, como os personagens de seus longas: um ermitão e um andarilho. "A arte é um exercício solitário para mim", diz Guimarães. "É minha forma de ver o mundo, meu lado iconoclasta. Tento impregnar de tempo as coisas mínimas da vida."

Essas coisas mínimas, e algumas grandiosas, estão reunidas na maior retrospectiva do artista até agora. No Itaú Cultural, telas exibem projeções de seus curtas e um ciclo de filmes no auditório terá todos os longas que já fez.

Nos dois formatos, curta e longa, os filmes de Guimarães parecem ignorar a duração real do tempo. São segundos, fotogramas e cenas dilatadas, que esticam e distorcem realidades distintas.

Seu primeiro trabalho, filmado quadro a quadro em película, é um desses exercícios sobre a escansão do tempo. São registros do que ele chama de "microeventos" em seu apartamento -variações de luz, coisas que entram pela janela, visões furtivas.

"São pequenos fenômenos expressivos", descreve Guimarães. "Ou pequenas mortes cotidianas, os acontecimentos ordinários do dia."

Mas, na visão do artista, mesmo o ordinário ganha feições surreais. Numa série dos anos 1990, Guimarães pediu a amigos que o sequestrassem. Ele passava um dia vendado, fotografando sem ver as cenas das cidades, de sua Belo Horizonte natal a Londres, Madri e Barcelona.

Esse cineasta que não vê acabou esquartejando paisagens em fragmentos e criou também muitos quadros negros, uma reflexão indireta sobre o bom e o mau cinema.

Sobram cenas um tanto vazias, como as que filmou, de olhos abertos, em "Andarilho", quando saiu no encalço de um homem pelo interior mineiro em estradas e paisagens cheias de pó vermelho.

Guimarães se firmou dessa forma como uma espécie de poeta da solidão, um artista vidrado no isolamento, em formas de vida paralelas, distantes do real e, ao mesmo tempo, encharcadas de tristeza e melancolia reais.

"Esse estado contemplativo é melancólico", diz o artista. "Os personagens que eu busco são personagens à deriva. Interessa ver como vive o eremita, o andarilho, essas pessoas à margem. São elas que trazem novidades sobre as formas de existência."


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