Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Vargas Llosa faz busca da cultura perdida

Nobel abriu ciclo "Fronteiras do Pensamento" com fala sobre decadência cultural

CASSIANO ELEK MACHADO DE SÃO PAULO

A conferência de Mario Vargas Llosa que abriu, na noite de quarta-feira, a edição deste ano do ciclo Fronteiras do Pensamento, em São Paulo, poderia ser dividida em dois movimentos.

A primeira e mais extensa parte da fala do escritor peruano poderia ser batizada de "como eu descobri a cultura e como a cultura fez o homem descobrir a si mesmo".

Numa chave mais pessoal, Vargas Llosa, 77, disse que começou cedo. "Aprender a ler, aos 5 anos, foi a coisa mais importante de minha vida."

E tratou das leituras vorazes de infância e adolescência, da descoberta do teatro (e do teatro moderno, com uma peça de Arthur Miller), do "aprendizado do muito que não sabia". "A cultura foi uma maneira de viver a verdadeira vida", disse.

E narrou como a cultura civilizou a política, enriqueceu o "amor físico", ajudando a tecer o que veio a se chamar de erotismo, e como, em suma, foi "o motor do progresso e razão de termos saído das cavernas e chegado às estrelas".

Nesta primeira etapa, o Prêmio Nobel de Literatura de 2010 arava o terreno para o tema da noite: "A Civilização do Espetáculo".

É este o nome que Vargas Llosa cunhou para tratar do desmanche desta cultura sobre a qual vinha falando ao público do teatro Geo.

A essência deste "segundo movimento" da conferência poderia ser sintetizada na frase "A cultura não é a mesma que já foi no passado. O conceito de cultura é tudo, então de certa forma é nada".

Diz ele que a noção do que é cultura foi ampliada de tal forma que o termo passou a ser, daninhamente, usado em expressões como "cultura heterossexual", "cultura do reggae" e "cultura da maconha".

A grande cultura, a das obras-primas literárias, dos antigos mestres da pintura, dos Beethovens e Mozarts, estaria sendo abandonada.

Vargas Llosa contou que teve o estalo numa visita à Bienal de Veneza. "Lá tive a sensação de que estavam tirando sarro da minha cara. Estava mais perto de uma Disney e de um circo do que da arte."

E atacou, como vem fazendo há anos, o britânico Damien Hirst, 47, exemplo mais gritante, na ótica llosiana, do artista que é um "palhaço", "que não sabe nem pintar" (depois, criticou o francês Marcel Duchamp, que "abriu as portas para esta loucura").

No final de sua fala, fazendo a síntese dos dois movimentos, Llosa falou sobre os riscos do processo de "fazer da arte um passatempo".

A cultura, diz, é que desenvolve o espírito crítico, que permite a insurgência contra despotismos, motivo pelo qual todas as ditaduras começam por estabelecer censuras artísticas.

Vargas Llosa concluiu com uma advertência: "Uma cultura desprovida de fogo, de mordida, poderá nos fazer retroceder às cavernas".


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página