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Heterônimo de Nelson Rodrigues, Myrna vira personagem de peça

Madura e milionária, mulher misteriosa deu conselhos sentimentais no "Diário da Noite"

Textos publicados nos anos 1940 foram relançados no livro "Não se Pode Amar e Ser Feliz ao Mesmo Tempo"

GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO

Por ora, esqueça Elena, a protagonista ausente do filme homônimo, atualmente em cartaz nos cinemas. Há outra mulher misteriosa a ser investigada em seus contornos psicológicos, suscitando a questão: quem é Myrna? Ou melhor: quem foi?

A pergunta será respondida pelo espetáculo "Myrna Sou Eu". Com direção de Elias Andreato e o ator Nilton Bicudo sobre o palco --travestindo-se de maneira elegante, casaquinho com ombreiras, peruca de cabelos grisalhos, maquiagem comedida--, a montagem estreou ontem no Teatro Augusta.

Myrna, em suma, foi uma conselheira sentimental criada em 1949 por Nelson Rodrigues para responder cartas enviadas, principalmente por mulheres, ao jornal "Diário da Noite", no qual o escritor (e também repórter) trabalhou.

A apresentação da coluna Myrna Escreve pelo "Diário da Noite" mostra que o marketing calcado no mistério da protagonista usado em "Elena" tem antecedentes. Na propaganda dos anos 1940, são lançadas questões como: "[Ela] é loura? (...) Nasceu no Cairo? Em Alexandria? Adivinha o futuro? É velha ou moça?".

Mais do que um pseudônimo, Myrna foi concebida como celebridade: era mulher solteirona, madura e milionária --ela mesma revela aspectos de sua fortuna em um texto publicado pelo jornal.

"Ela dava entrevistas e tinha uma personalidade", diz Caco Coelho, que organizou "Não se Pode Amar e Ser Feliz ao Mesmo Tempo", coletânea de textos assinados por Nelson como Myrna.

O livro foi inicialmente publicado pela Companhia das Letras e está sendo relançado pela Nova Fronteira (R$ 35, 134 págs.).

Coelho afirma que a criação do heterônimo Myrna e o conjunto de cartas recebidas por Nelson podem ter tido papel seminal na formatação dos textos do escritor dali em diante. Ele vê reverberações nas peças "Valsa nº 6" (1951) e "A Falecida" (1953).

CÔMICA OU SÉRIA?

Os casos e perguntas citados por Nelson em seus textos não são necessariamente fiéis aos relatos de seus leitores, havendo até mesmo a possibilidade de invenção completa. "Ele certamente recebia e lia as cartas", afirma Coelho. "Mas aquilo era usado como uma inspiração."

Há, nos textos, aspectos cômicos que partem para posicionamentos morais. Há também questões levadas à profundidade do existencialismo, o que é delimitado pela seleção apresentada pelo espetáculo. "Trata-se de uma peça cômica, mas não estamos tratando como comédia", define Bicudo.

A adaptação transforma Myrna em apresentadora de rádio e também inclui depoimentos de Nelson publicados em "Nelson Rodrigues por Ele Mesmo" (Nova Fronteira, R$ 40, 272 págs.).

Alguns títulos da coluna Myrna Escreve são inseridos no texto do monólogo. Entre eles estão "A Mobília de Quarto Não Interessa", "A Mulher É uma Escrava Espontânea", "A Mulher Feia deve ser Quase Inconquistável", "Fuja do Homem Bonito" e "O Amor que Acaba Não Era Amor".


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