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Crítica drama

Parábola sobre terra sem lei na cracolândia não convence

CAROLIN OVERHOFF FERREIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Recuar no tempo para criticar a atualidade é habitual no teatro desde Brecht. A ação dramática é situada no passado para acrescentar dimensão alegórica ao debate de questões sociais e morais.

"Homem Não Entra", peça escrita por Rodrigo Pereira e Paulo Faria, também responsável pela encenação, não alcança este propósito.

O espetáculo surgiu da inquietação da Cia. Pessoal do Faroeste com o descaso e a marginalização históricos da antiga Boca do Lixo e da atual cracolândia, onde tem sede.

Cita simultaneamente a expulsão das prostitutas do Bom Retiro para este local em 1953 e o gênero cinematográfico do western spaghetti para falar de uma terra sem lei.

Personagens, a trama de vingança e a iconografia caubói acabam ofuscando a crítica à ausência do Estado, à corrupção e ao paternalismo.

A peça não estabelece a densidade simbólica pretendida ao perder-se nos meandros de um enredo sobre confusas relações familiares e óbvios conchavos entre crime organizado, política e mídia.

A heroína é a prostituta Brigitte (Mel Lisboa), com atos violentos para mudar as regras do jogo. A reinterpretação feminista do western spaghetti fica presa à tipificação.

O mesmo acontece com seus antagonistas: o "xerife" corrupto Mardock (Roberto Leite) e o jornalista oportunista Romã (Beto Magnani). Depois de um duelo entre Mardock e o matador Django (José Roberto Jardim), a protagonista apela ao público que tome uma atitude. É o único momento --encenado na rua em frente do teatro-- em que a parábola se cumpre.

Há momentos interessantes quando a peça se esquece de sua missão política e foca na paródia e na dinâmica do faroeste, usando as possibilidades cênicas da casa adaptada, do palco estreito, escadas e dois balcões.

Fazer teatro político na cracolândia é louvável e necessário. A alusão ao western spaghetti não proporciona o melhor caminho.


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