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Monarco assume presidência da Portela

Aos 79 anos, sambista ganha posto de honra na escola de samba e disputa prêmio de melhor disco do ano

Na quarta, ele volta ao Theatro Municipal, onde no começo da carreira "o samba não passava nem pelos fundos"

MARCO AURÉLIO CANÔNICO DO RIO

Com a voz grave inconfundível e a autoridade de quem sabe do que está falando, Hildemar Diniz, o homem conhecido como Monarco, se lembra do tempo em que "o samba era considerado coisa de marginal".

"No Theatro Municipal, o samba não passava nem pelos fundos, rapaz. Aquilo ali era só para grandes operetas e para aquelas famílias riquíssimas. Hoje, você vê que o samba frequenta até o Municipal."

De fato: na próxima quarta-feira, o próprio Monarco estará no centenário teatro carioca para disputar o Prêmio da Música Brasileira nas categorias melhor álbum ("A Soberania do Samba") e melhor cantor de samba.

As indicações, diz ele, foram recebidas como um presente pelos 80 anos que completará em agosto, quase todos eles dedicados ao gênero no qual versa desde os sete, quando começou a fazer "uns sambinhas mal-acabados".

Monarco também dedicou a maior parte de sua vida à Portela, escola na qual chegou aos 13 anos e da qual acaba de ser eleito presidente de honra, com a difícil tarefa de ajudar a tirar da fila a maior campeã do Carnaval carioca, cujo último título foi em 1984.

"Eu sou mais antigo, se me enrusto, ia ser falta de coragem, de atitude e de amor", diz o líder da Velha Guarda da Portela, com a qual se apresenta desde os anos 1970 --o primeiro cachê, ele lembra, foi em um show em São Paulo, em 1972, produzido por Elifas Andreato.

AJUDA DO PAULINHO

O sucesso individual viria no ano seguinte. "Eu guardava carros na porta do Jornal do Brasil', até que o Martinho [da Vila] gravou um samba meu que foi sucesso nacional", diz, cantando "Tudo, Menos Amor".

"A partir daí, eu passei a ter credibilidade no meio. Outros intérpretes, como Clara Nunes, Beth [Carvalho], Paulinho [da Viola], passaram a me gravar. Aquela canseira que eu levava nas gravadoras foi parando, graças a Deus."

No vasto repertório que lançou desde então, destacaram-se canções de amores desajustados, como "Coração em Desalinho", "Vai Vadiar" (ambas famosas na voz de Zeca Pagodinho) e "Lenço".

"Desilusões amorosas, tive muitas na minha vida. Por muitas eu mesmo fui culpado, reconheço. Já sofri muito, de eu pensar que estava bem e, de repente, receber uma bola nas costas. Ficava triste, aí nascia o samba."

RECONHECIMENTO

Na maturidade, Monarco encontrou sossego para o coração --está casado há 20 anos-- e valorização para sua vasta obra musical.

"Só me deram reconhecimento mesmo há uns dez anos", diz ele, se referindo ao resgate da Velha Guarda da Portela liderado por figuras de grande apelo midiático, como a cantora Marisa Monte, que produziu o disco "Tudo Azul" (2000) e produziu o documentário "O Mistério do Samba" (2008).

O sambista não reclama da sorte, "porque teve gente até mais injustiçada do que eu, como Cartola e Nelson Cavaquinho".

"Eu estou feliz, muito embora já esteja na reta final. Não estou rico, mas pelo menos tenho esse reconhecimento. Faço show aí pelo Brasil e as pessoas cantam minhas músicas, pedem para tirar foto comigo."

Se a atenção dos fãs faz bem à alma, para manter a voz ele deixou de fumar há 40 anos e diz não beber.

"Não me acho um cantor, mas tem pessoas que gostam da minha voz. Nesse negócio do prêmio que vai ter aí no Theatro Municipal, eu estou na categoria de cantor, veja bem", diz rindo.

Mais do que de sua voz, ele sente orgulho da obra, da inspiração que "nasce espontaneamente, dádiva divina".

"Se não passar pelo coração, fica com prazo de validade. Pode ser sucesso hoje, tocar muito no rádio, mas depois some. E você vê sambas de 80 anos atrás que são cantados até hoje."


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