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Crítica História

Com sabor de almanaque, obra supervaloriza pracinhas

OSCAR PILAGALLO ESPECIAL PARA A FOLHA

Mais conhecido como músico, João Barone divide seu tempo entre a música e as pesquisas sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra.

O interesse vem da infância, estimulado pelas evasivas do pai, que, fugindo das lembranças do passado, pouco falava sobre ter sido um dos mais de 25 mil pracinhas no front da Itália. Para tentar preencher a lacuna deixada pelo silêncio, Barone fez filmes e livros.

Em "1942 - O Brasil e Sua Guerra Quase Desconhecida", o foco são os convocados pela Força Expedicionária Brasileira. O autor defende que, embora tenham chegado à Europa no final do conflito, os pracinhas deveriam ter mais reconhecimento pela contribuição para a vitória dos aliados sobre o nazifascismo.

Barone não se concentra na ação. Investe mais nos antecedentes e nas consequências, sempre da perspectiva dos soldados.

O livro não tem revelações dignas de nota. Em que pese a disposição do autor de apontar erros e tabus, não estabelece uma nova visão sobre o assunto. A maioria das versões distorcidas já fora corrigida desde que ficou para trás o interesse político em explorar a experiência da FEB.

Não é preciso lê-lo para saber que os americanos não afundaram navios para forçar a entrada do Brasil na guerra ou que os "caboclos" não foram fazer turismo na Europa.

O livro tem sabor de almanaque, reforçado pelo abuso da expressão "pouca gente sabe que" e variações. Há curiosidades que tinham sido varridas da história, como o comandante brasileiro do primeiro submarino italiano a atacar a um navio em águas territoriais do Brasil.

Mas há muita informação inútil e associações gratuitas. E daí que Modena, "uma das cidades por onde passou a FEB", é a sede da Ferrari? Ou que tantas medalhas tenham sido distribuídas para esta ou aquela unidade de combate?

Quanto à linguagem, embora o coloquialismo convide à leitura, há alguma inadequação. Após dizer que a América do Sul se tornou um paraíso para nazistas, por exemplo, Barone diz que "o pior é que" muitos estrangeiros ainda acham que o Brasil esteve do lado do Eixo. É claro que não é pior. A expressão só faria sentido em meio a uma oralidade sem compromisso com a literalidade e soa desafinada numa obra sobre história.

Barone ajudou a financiar a associação dos pracinhas veteranos, a Casa da FEB, e recebeu condecorações de entidades de ex-combatentes. O brilho das medalhas transparece no texto. Embora o factual seja preservado, sua avaliação encerra uma supervalorização do papel da FEB.

O enfoque talvez fosse defensável no passado, para contrabalançar a campanha contra a FEB. Hoje, no entanto, um distanciamento maior seria mais apropriado.


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