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Crítica - Biografia

Jack London personifica o 'escritor de ação'

Autor de 'Caninos Brancos' foi o primeiro a viver o que escreveu, precedendo a Ernest Hemingway e Jack Kerouac

RICARDO BONALUME NETO DE SÃO PAULO

Músicos, artistas plásticos e escritores têm pelo menos uma coisa em comum: a enorme variedade de formas.

Um guitarrista de rock e um sujeito tocando bumbo na banda do Exército da Salvação são ambos músicos, assim como Leonardo da Vinci e um sujeito rolando em tinta sobre uma tela no chão são artistas. Escritores também vêm em todas formas, cores e tamanhos.

Na prática, existem dois modelos básicos: uns que escrevem baseados principalmente na imaginação, outros que se baseiam em experiências de vida. Vale tanto para ficção, como para não ficção.

O americano Jack London (1876-1916) é um dos protótipos e modelos dos autores cuja vida faz parte essencial da obra. Nada melhor do que uma biografia para descobrir como isso aconteceu. O jornalista britânico Alex Kershaw deixou isso claro nessa recente biografia do escritor.

A biografia é um gênero literário curioso. O autor pode amar ou detestar o biografado; é raro que fique indiferente. Por exemplo, nenhum biógrafo de Adolf Hitler era fã do homem que personificou o mal no século 20. Do outro lado, é comum a biografia virar uma hagiografia.

Mas, mesmo com admiração pelo biografado, um autor pode ser honesto. Kershaw pinta London com todas as cores possíveis. Mostra seus defeitos, seus acertos, e ilustra muito bem a complexa relação entre obra e vida.

London nasceu na Califórnia, foi operário e se tornou socialista, foi marinheiro atrás de ostras ou de peles de focas, cruzou os Estados Unidos de trem como vagabundo, foi preso, visitou os mares do sul do Pacífico e o Havaí, esteve na corrida do ouro na região de Yukon/Klondike (noroeste do Canadá e Alasca). E escreveu muito, ficção e não ficção.

"Outros homens aventureiros que também conseguiam manejar uma caneta têm uma dívida com Jack ou, no mínimo, lhe devem um relutante respeito", afirmou Kershaw.

Ele cita americanos como John Dos Passos, John Steinbeck, Ernest Hemingway e Jack Kerouac; ou o inglês George Orwell."Foi Jack, contudo, quem primeiramente personificou o escritor como um homem de ação, que verdadeiramente viveu o que escreveu", diz o autor.

Como costuma acontecer com alguns escritores pioneiros, a academia demorou para reconhecê-lo. Era conhecido como um escritor menor que fazia "livros sobre cachorros" (referência a um de seus livros clássicos, "Caninos Brancos"). Como Kershaw lembra, foi preciso mais de meio século para que fosse considerado um escritor de primeiro time.

Hoje ele até virou personagem de cultura pop, como mostra o livro de Christopher Golden --que faz roteiros para histórias em quadrinhos e jogos-- e Tim Lebbon, especializado em "literatura fantástica". Eles tornaram London um personagem em um livro cheio de "acontecimentos sobrenaturais".

Os dois admitem que o livro de Kershaw foi uma das "principais fontes de pesquisa". Conclusão razoável: para que ler um livro bobo de ficção "fantástica" quando a vida real do escritor é bem mais interessante?


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