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Textos inéditos de Brecht no país são encenados em clima sombrio

'Quanto Custa?' une duas peças do alemão e retrata cenicamente atmosfera de medo de 1939

Personagens fazem alusão a Adolf Hitler, mencionam países nórdicos e relações comerciais da época

MARCIO AQUILES DE SÃO PAULO

Duas peças curtas do dramaturgo Bertolt Brecht (1898-1956), inéditas nos palcos brasileiros, motivaram o diretor Pedro Granato a reconstituir a soturna atmosfera alemã de 1939, data em que ambos os textos foram escritos.

"Quanto Custa?", montagem que estreia amanhã no Centro Cultural Banco do Brasil, combina "Dansen" e "Quanto Custa o Ferro?", peças que podem ser consideradas complementares, uma vez que os protagonistas de ambas são perseguidos por um gângster --metáfora para Adolf Hitler.

De acordo com o diretor, os textos fazem menção direta a países nórdicos, aos contratos comerciais estabelecidos então, e, sobretudo, às relações pessoais.

Alguns personagens são paródias às nações escandinavas, como sugerem seus nomes: o vendedor de ferro Svenson --assemelha-se com Suécia-- e a jornaleira Norsen --com Noruega.

A encenação prima por uma direção de arte cuidadosa. A cenografia, os objetos de cena e os figurinos desenvolvidos para a montagem transmitem o clima de incerteza e insegurança da época.

"São textos que funcionavam como crônica do momento presente, redigidos quando o nazismo estava no poder", afirma Pedro Felício, que interpreta três personagens, ao lado de Luís Mármora --que incorpora dois-- e Ernani Sanchez, que encarna Svenson.

A caracterização cenográfica influencia bastante o desenvolvimento dramático.

São três áreas perfiladas lado a lado: a primeira para o açougue, a segunda para a banca de jornal, e a terceira para a ferraria. Este último espaço, por exemplo, é cercado por grades, o que delimita os movimentos dos atores.

"Isso cria uma situação de claustrofobia, e também representa a luta pela segurança no período", diz Granato.

CONCEITOS DE BRECHT

Apesar de o enredo aparentar ser um drama naturalista, já que trata do cotidiano de comerciantes vizinhos, uma categoria brechtiana fundamental está presente.

A peça é uma fábula de natureza política, aspecto chave na compreensão da dialética marxista sobre a qual o autor alemão se debruçava em seus estudos teatrais.

Outro elemento trabalhado pelo grupo foi o chamado efeito de estranhamento, procedimento que visava impedir que o espectador absorvesse as histórias encenadas como algo natural, familiar.

O intuito seria fazer com que o público olhasse as coisas sob uma nova ótica, possibilitando uma tomada de consciência. "Em nossa versão, usamos a música para obter o efeito de estranhamento", conta Granato.

A iluminação e a trilha sonora não deixam o espectador se esquecer do contexto de horror da Segunda Guerra Mundial, referência estética importante da peça.


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