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Crítica - Economia

Volume pinça pontos básicos do pensamento de Furtado

ELEONORA DE LUCENA DE SÃO PAULO

Duas semanas antes de morrer, em novembro de 2004, Celso Furtado escreveu texto preocupado com as altas taxas de juros, que se relacionavam com a concentração de renda e o baixo crescimento da economia no Brasil.

Atacava as políticas neoliberais, que davam controle progressivo às empresas transnacionais e golpeavam o parque industrial. As questões continuam ecoando quase dez anos depois.

Esse seu último artigo, trechos de seus livros clássicos, ensaios e palestras estão reunidos na coletânea "Essencial Celso Furtado", organizada pela jornalista Rosa Freire D'Aguiar, premiada tradutora e mulher do economista por 25 anos.

Primeiro ministro do Planejamento do Brasil (1962-1963), Furtado foi cassado pela ditadura militar em 1964. No exílio forçado, lecionou na França e nos EUA. Publicou cerca de 30 livros, tornando-se um dos mais férteis e originais intelectuais brasileiros, transitando entre economia, história e cultura.

Dessa vasta produção, a obra pinça textos cruciais para quem quer conhecer os pontos básicos do pensamento abrangente de Furtado.

Há memórias biográficas, reflexões sobre política internacional, análises sobre o jogo de forças no governo João Goulart, avaliações sobre a miséria da elite brasileira, planos de pesquisa e de ação.

O forte do livro, claro, está na economia. Consta da coletânea um capítulo precioso sobre a crise de 1929, presente em sua obra mais conhecida, "Formação Econômica do Brasil" (1959), em que analisa a política de Getúlio Vargas de queima de estoques de café e sua relação com a industrialização.

Estudioso das causas do subdesenvolvimento brasileiro, ele aponta que a pobreza em massa tem origem "numa situação de privação original do acesso à terra e à moradia".

Talvez uma de suas maiores contribuições ao pensamento econômico tenha sido ressaltar o subdesenvolvimento como fruto de um processo histórico de dependência. "Não é uma etapa pela qual passaram as economias que já alcançaram grau superior de desenvolvimento. É uma forma perversa de crescimento", definiu.

Poucos meses antes de morrer, alertou para a confusão entre crescimento e "mera modernização das elites".

E preconizou a necessidade de pressões políticas pela população: "É só quando prevalecem as forças que lutam pela efetiva melhoria das condições de vida da população que o crescimento se transforma em desenvolvimento".

Estão aí os protestos para colocar Furtado novamente em pauta.


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