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Análise

Rótulo de latina valorizou obra de mexicana no mercado global

FABIO CYPRIANO CRÍTICO DA FOLHA

Em 1977, pela primeira vez, a Sotheby's, de Nova York, organizou um leilão dedicado à arte latino-americana. Foi a criação de um novo nicho para o mercado de arte, na busca da valorização de uma produção até então marginalizada, seja para venda, seja para as instituições de arte.

Naquele evento da casa de leilão, uma excelente pintura de Frida Kahlo, "Árbol de la Esperanza, Mantente Firme" (árvore da esperança, mantenha-se firme), de 1946, foi vendida por US$ 19 mil.

No catálogo da Sotheby's estimava-se que a obra valesse entre US$ 20 mil e US$ 30 mil, mas ela acabou saindo mesmo abaixo do esperado.

Quase 20 anos depois, em 1990, a Sotheby's vendia "Diego y Yo" (Diego e eu), pintura de Kahlo realizada em 1949, por US$ 1,4 milhão, transformando-a na primeira artista latino-americana a ultrapassar o marco do milhão de dólares.

Em 2006, a artista mexicano alcançou novo recorde, dessa vez com US$ 5,6 milhões, no quadro "Raices" (raízes), de 1943.

Como se percebe, a estratégia iniciada em 1977 obteve sucesso. Identificada como "artista latino-americana", Kahlo despontou no mercado. Soma-se a isso outra estratégia, a de aproximá-la de uma narrativa nacionalista, como símbolo mexicano.

Esse fator se evidencia por meio de uma lei que não permite que suas obras saiam do México para venda, tornando assim escassas suas possibilidades de comercialização em leilões estrangeiros.

PRECURSORA

A importância e a originalidade da obra de Kahlo são inquestionáveis. Artista precursora a lidar com narrativas biográficas, por meio da pintura ela deu início, ainda no período moderno, ao que artistas da performance exerceriam na arte contemporânea. Além disso, a mexicana usou ainda novos meios, como a fotografia, como poucos artistas de seu tempo.

Contudo --e aí está uma das perversidades do sistema da arte--, sua supervalorização decorre de elementos às vezes externos à obra, como a categorização em um segmento geográfico, o que se revela oportunista e limitante.


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