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Crítica ópera

'O Trovador' tem boa montagem no Pará

Vale a pena atravessar o país para ouvir as vozes das cantoras Denise de Freitas e Eliane Coelho

SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA

Para o filósofo paraense Benedito Nunes (1929-2011), a compreensão de uma obra de arte pode se estender para "a interpretação da cultura e a explicação da natureza". De fato, em Belém parece impossível separar natureza e cultura.

Incrustada entre a floresta e um oceano de água doce, a capital do Pará é também marcada por obras do arquiteto italiano Antonio José Landi (1713-91), pela música e pela ópera.

Iniciado no mês passado com "O Elixir do Amor", de Donizetti (1797-1848), o 12º Festival de Ópera do Theatro da Paz apresentou na semana passada "O Trovador", de Verdi (1813-1901), e agora prepara "O Navio Fantasma", de Wagner (1813-83).

"O Trovador" teve regência de Silvio Viegas e direção cênica de Mauro Wrona. É a história do amor entre Manrico e Leonora, dama da corte de Aragão disputada também pelo Conde de Luna. A obra estreou em 1853, entre "Rigoletto" e "La Traviata".

VOZES BRASILEIRAS

Se John Neschling, diretor do Theatro Municipal de São Paulo, tem preferido trabalhar com solistas estrangeiros, a montagem paraense privilegia vozes brasileiras, embora o trovador Manrico seja interpretado pelo tenor italiano Walter Fraccaro.

No primeiro ato, os tempos dos solistas (Sávio Sperandio como Ferrando e Eliane Coelho como Leonora) não estavam perfeitamente ajustados com a orquestra.

Mas o segundo ato compensou tudo: vale atravessar o Brasil para ouvir a voz grave e encorpada de Denise de Freitas como Azucena, a cigana que lançou ao fogo o próprio filho.

E também vale atravessar continentes para ouvir Eliane Coelho cantar: "Desceste do céu ou estou no céu contigo?". Estrela da Ópera de Viena, a soprano carioca possui um timbre de rara beleza, que o tempo parece polir.

Impossível não comentar o dó agudo de Fraccaro na "cabaletta" do terceiro ato -- puro, límpido, sem esforço --, bem como a atuação de Rodolfo Giugliani (como Conde) e a ótima preparação do coro por Vanildo Monteiro.

O próximo passo é investir na orquestra, a condição necessária para enfrentar repertórios mais ambiciosos.

Nesse sentido, o próprio "Navio Fantasma", de Richard Wagner, que estreia no dia 25/9, já será um desafio.

Os cenários usaram recortes de monumentos construídos por Landi em Belém no século 18: são discretas placas históricas emolduradas por luzes e vozes, como se as melodias de Verdi brotassem da noite paraense e percorressem a trilha de mangueiras que corta a cidade.


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