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Crítica - Livro
Entrevistas jogam luz sobre escolhas de Stanley Kubrick
CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHARecluso, obsessivo, misantropo, maníaco por controle, gênio. Os adjetivos que costumam acompanhar o cineasta norte-americano Stanley Kubrick (1928-1999) servem para justificar a parcimônia com que ele controlou suas exibições na imprensa.
Para os poucos entrevistadores que ganharam sua confiança, como o crítico francês Michel Ciment, o diretor foi generoso e intenso, sem ceder à mistificação.
O livro "Conversas com Kubrick" reúne entrevistas e artigos de Ciment e complementa a exposição e a retrospectiva de seus filmes, que começam amanhã para o público.
Como toda a iconografia do livro, que registra os bastidores das filmagens, os textos captam o lado interno do cinema, sua maquinaria, os momentos e escolhas que transformam-se em mágica ou mitologia.
Ciment, diretor de Redação da revista de cinema francesa "Positif" e entrevistador exímio, aborda Kubrick em três momentos, após os lançamentos dos filmes "Laranja Mecânica" (1971), "Barry Lyndon" (1975) e "O Iluminado" (1980).
Em vez de ceder ao deslumbramento, Ciment indaga a gênese dos filmes e questões que iluminam interesses temáticos e escolhas formais.
AVERSÃO
Sobretudo, não ignora o alerta de Kubrick sobre sua aversão a entrevistas: "A gente se sente sempre obrigado a fazer o resumo espiritual e brilhante de nossas intenções. Há críticos que fazem isso muito bem... No entanto, mesmo aí, nem sempre há relação com o que nós mesmos pensamos do filme".
Ciente dos limites da noção de "autor", Ciment amplia as conversas com diversos participantes do processo de criação que agregam cumplicidade ou atritos à falsa homogeneidade do artista gênio.
E não economiza sua abordagem como intérprete, com ensaios em que a obra ganha outras relações, adquire novos sentidos ao transitar entre a tela e a plateia.