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S.O.S moda
Com mudanças na estrutura e na curadoria, a 36ª São Paulo Fashion Week começa hoje escancarando a busca do setor pela sobrevivência, em meio à crise financeira
"Deslocamentos" é o tema da edição de inverno 2014 da São Paulo Fashion Week, que começa hoje. Também poderia ser o título da novela sobre a crise da moda nacional, que já dura três temporadas.
O socorro é perseguido em várias frentes. Agora, têm espaço na passarela nomes que nunca antes se encaixaram no estereótipo da inovação buscada pelo evento.
Outra novidade anunciada é que a curadoria da maior semana de moda da América Latina passa a ser feita em sociedade com uma publicação comercial: a revista "Vogue".
"É uma parceria normal, que acontece em vários países, como nos EUA", afirma Paulo Borges, fundador da São Paulo Fashion Week.
Essa associação com a editora Globo/Condé Nast causou desconforto entre editores de moda de outras revistas. Já os estilistas gostaram.
"Qualquer ajuda é bem-vinda. Se é para incentivar os criadores que passam por dificuldades, ótimo", analisa Samuel Cirnansck.
"A moda não está em crise. Apenas alguns processos é que estão", afirmou Borges. Durante sua entrevista, acontecia um protesto do setor têxtil em frente a uma feira de tecidos chineses, em São Paulo, contra o sucateamento da indústria.
A SPFW, que acontece até sexta (veja desfiles de hoje em quadro nesta página) no parque Villa-Lobos, terá, pela primeira vez, venda de roupas em tempo real.
O designer João Pimenta é um dos que farão parte da primeira ação no Brasil da plataforma de moda do e-commerce eBay. Suas roupas, assim como as da grife Amapô, serão postas à venda por meio de um aplicativo de celular enquanto são apresentadas na passarela do evento.
SAPATOS E CRIANÇAS
Também pela primeira vez em 17 anos de vida, a semana de moda paulista incluirá desfile de marca de sapatos.
A Melissa, uma das patrocinadoras, desfilará seus calçados de plástico acompanhados de looks criados por seis jovens marcas --entre elas, a Apartamento 03.
O desfile acontecerá numa estrutura paralela à principal --montada no parque, com três salas e área total de 15 mil metros quadrados.
Os acessórios, no caso, são as roupas. "Não vamos vendê-las, nosso foco é o sapato. O desfile é uma plataforma de comunicação com a cliente", diz o CEO da grife no Brasil, Paulo Pedó.
Outra etiqueta que faz participação estratégica é a Lilica Ripilica, marca que até então só desfilava em eventos de shopping centers.
A grife infantil, com foco na classe B, fará desfile descrito na programação do evento como "especial", antes da apresentação de João Pimenta, na quinta.
O desfile da marca servirá de teste para uma semana de moda infantil que deve ser lançada em outubro de 2014 pela empresa Luminosidade, de Paulo Borges.
O investimento feito pela Lilica Ripilica na semana de moda foi de R$ 1 milhão, segundo o grupo Marisol, que controla a marca. "Somos seguidores de moda; não vamos apresentar criações, e sim uma junção dos estereótipos que acompanham a moda infantil, lúdica e fantasiosa", diz o presidente do grupo, Giuliano Donini.
O executivo diz que não há mais como definir a SPFW como um evento de luxo. "Grifes internacionais tomaram o lugar do luxo no Brasil."
Quem também promete algo "especial" é Fause Haten, estilista à frente da marca FH.
Um dos maiores críticos do formato tradicional de desfile, ele fará uma "performance-surpresa" fora do parque Villa-Lobos, em rua que será revelada uma hora antes do seu "desfile de guerrilha".
"O formato está desgastado. Desfile servia para vender roupa, mas agora é para vender marca e gerar mídia espontânea", diz Haten.