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Crítica - Drama
Em filme argentino, médico nazista é herói particular de menina de 12 anos
RICARDO CALIL CRÍTICO DA FOLHANos anos 60, um médico alemão (Álex Brendemühl) chega a Bariloche e se torna o primeiro hóspede de um hotel que está sendo reaberto por uma família argentina.
Ele logo se apega à caçula Lilith (Natalia Oreiro), uma menina de 12 anos, pequena para sua idade, e se dispõe a ajudá-la a crescer com a administração de hormônios, sob consentimento da mãe e desconfiança do pai.
No início de "Wakolda", candidato da Argentina ao Oscar de melhor filme estrangeiro, a figura do médico é cercada de mistério. Mas aos poucos a diretora Lucía Puenzo fornece as peças fundamentais para desvendar o quebra-cabeça.
Em uma cena, o médico diz à menina que "a mistura destrói o sangue, apaga a memória". Pouco depois, outro personagem comenta que agentes israelenses estão procurando por Josef Mengele na Argentina.
A partir daí fica claro que se trata do cientista nazista conhecido como "o Anjo da Morte", que realizou experimentos desumanos com judeus e ciganos no campo de concentração de Auschwitz.
Com a resolução desse mistério antes da metade da projeção, o interesse do filme poderia diminuir.
Ao contrário, ele cresce até o fim, porque o foco da diretora é a relação que estabelece entre Mengele e Lilith.
Enquanto o médico vê a menina como uma cobaia, ela o enxerga como uma espécie de herói --alguém disposto a ajudá-la a superar uma limitação (na escola, ela sofre bullying por sua baixa estatura).
Assim, Puenzo consegue entregar um filme que é ao mesmo tempo um thriller sobre a presença nazista na Argentina e um drama sobre a transição feminina da infância para a adolescência.
É um passo adiante na carreira da diretora do interessante "XXY" (2007), história de uma hermafrodita que também lidava com questões da genética e da puberdade.
Por fim, uma explicação sobre o título: Wakolda é a boneca preferida de Lilith, que Mengele se dispõe a consertar e produzir em série --simbolismo evidente para o ideal de pureza ariana. Talvez seja o único aspecto óbvio de um filme invulgar.