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Crítica - Romance

Graça excessiva compromete narrativa de David Nicholls

O ESCRITOR PARTIU DA SUA PRÓPRIA EXPERIÊNCIA DE ATOR DE SEGUNDA LINHA PARA CONTAR COMO É QUE FUNCIONA O MUNDO DOS ATORES DE SEGUNDA LINHA, DE PREFERÊNCIA NO PRIMEIRO MUNDO

CADÃO VOLPATO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O inglês David Nicholls é o autor do best-seller "Um Dia" (2009), que vendeu horrores na Inglaterra, crescendo no boca a boca, e fez sucesso no Brasil, com cerca de 300 mil exemplares vendidos.

O filme tirado do romance, com Anne Hathaway no papel principal, já não é tão interessante: mostra como é possível diluir as sutilezas e transformá-las em lugares-comuns. "Um Dia", o romance, tem a força das coisas simples e bem-humoradas, mesmo quando lutam contra o excesso de açúcar que costuma comprometer a receita das comédias românticas.

Antes de "Um Dia", Nicholls escreveu "O Substituto" (2005), livro mais engraçado e menos sutil. A graça excessiva, aliás, é um dos pontos fracos: da primeira vez, a piada funciona; na segunda, percebe-se o truque.

O escritor partiu da sua própria experiência de ator de segunda linha para contar como é que funciona o mundo dos atores de segunda linha, de preferência no Primeiro Mundo.

O substituto do título é um ator chamado Stephen McQueen (quase Steve McQueen, protagonista de "Bullitt"), que tem no currículo papéis minúsculos em produções menores, de peças de teatro a séries de TV, atingindo uma espécie de ápice na carreira ao dublar um esquilo numa animação famosa.

O livro começa com McQueen interpretando um cadáver, algo de que ele se orgulha. A pedra no sapato de McQueen é o canastrão Josh Harper, o "12º Homem mais Sexy do Mundo", intérprete de Lord Byron numa peça de grande sucesso no Piccadilly Circus, centro de Londres.

Um Byron de "camisa de babados aberta até a cintura e uma calça de couro justa e cuja veracidade histórica era questionável".

Pois McQueen é o ator-substituto da figura --e evidentemente nunca chega a sua vez. Como se não bastasse, ele ainda tem uma filha adolescente e uma ex-mulher chata, mora num apartamento miserável no subúrbio e acaba se apaixonando pela mulher do chefe --o homem que interpreta o Lord Byron.

Nora é americana e de alguma forma lembra a atriz Anne Hathaway enquanto Emma, a protagonista de "Um Dia". O amor tem tudo para melhorar a existência azarada do substituto, mas o leitor vai ter que encarar o humor às vezes mão pesada de Nicholls, um roteirista de boa reputação e nenhum blockbuster ainda no bolso.

"Um Dia" ainda é o ponto alto da sua carreira, e pelas últimas entrevistas dá para entender o quão preocupado ele está em escrever o próximo romance, levando em conta o sucesso do último.

O "Substituto" poderia ter servido como aperitivo para o que viria a seguir, mas, lido agora, pouco revela das aventuras de David Nicholls no mundo das sutilezas --a grande qualidade de "Um Dia".


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