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Crítica - Comédia

Interação entre os dois grandes atores de TV fortalece 'À Procura do Amor'

MAURICIO STYCER COLUNISTA DA FOLHA

Já há alguns anos, a televisão americana tem sido mais competente do que Hollywood na produção de ficção de qualidade para o público adulto. Mas, entre as dúzias de produções infantiloides que costuma despachar, de vez em quando a indústria cinematográfica produz um filme acima da média, como que para lembrar do que é capaz.

"À Procura do Amor" ("Enough Said", no original) é o filme da vez. Curiosamente, muito de sua força vem do entendimento em cena de dois grandes atores, Julia Louis-Dreyfus e James Gandolfini (1961-2013), ambos marcados por trabalhos feitos para a TV.

Julia é o que se pode chamar de uma "atriz de televisão". Fez "Saturday Night Live" nos anos 80. Viveu, por nove temporadas (1989-1998), Elaine Benes, a inclassificável amiga de Jerry, George e Kramer no seriado "Seinfeld". Encarnou depois, ao longo de cinco temporadas (2006-2010), a neurótica Christine, em "The New Adventures of Old Christine". E desde 2012 dá vida a Selina Meyer, vice-presidente dos Estados Unidos, na hilária "Veep".

Gandolfini, ainda que com um currículo bem mais extenso no cinema, também estabeleceu seu nome graças ao trabalho na televisão, basicamente por conta de um único papel, o mafioso Tony Soprano, vivido ao longo de 86 episódios em seis temporadas de "Família Soprano" (1999-2007).

Escrito e dirigido por Nicole Holofcener (de "Sentimento de Culpa", "Amigas com Dinheiro" e "Encontro de Irmãs"), "À Procura do Amor" descreve em tom agridoce o romance entre dois cinquentões, Albert e Eva, ambos divorciados e, até se encontrarem, bem pouco animados com o futuro.

É difícil não ver o filme sem pensar na carreira dos dois atores. No caso de Gandolfini, é um prazer ver como constrói um tipo frágil e sensível, tão longe do "boss" Tony Soprano.

Já Julia sofre mais para se livrar dos personagens que a celebrizaram. Quando, num acesso de sinceridade, Eva recomenda à amiga da filha adolescente transar com o namorado, é impossível não pensar na doida Christine.

Mas é, sobretudo, "Seinfeld", que vem à mente em diversas ocasiões. Eva carrega um pouco do sarcasmo incontrolável --e autodestrutivo-- que a personagem Elaine celebrizou na série. Na cama, depois da primeira noite de sexo, ela diz para Albert: "Cansei de ser engraçada". Talvez por gentileza, ele fala: "Eu também". Ao que a massagista observa: "Mas você não é engraçado".

A trama se desenvolve a partir do momento em que Eva se dá conta de que uma de suas clientes, a poeta Marianne (Catherine Keener), vem a ser ex-mulher do seu namorado. Massagem vem, massagem vai, Marianne descreve Albert da pior forma possível, praticamente desenhando os seus defeitos. Calada, Eva se deixa "contaminar" pelo veneno da ex.

Sem muita piedade, o filme expõe a crise do casal de meia-idade e os obriga, bem como ao público, a refletir sobre os muitos lugares comuns que envolvem relacionamentos.

Gandolfini, como se sabe, morreu em junho deste ano, em Roma. Tinha 51 anos. "À Procura do Amor" foi seu penúltimo trabalho e saber disso, evidentemente, torna o filme ainda mais tocante.


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