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Crítica experimental
Espetáculo critica modo de vida guiado pela tecnologia
CAROLIN OVERHOFF FERREIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHANo cemitério Quarta Parada, ao lado do Sesc Belenzinho, cada um dos 50 espectadores de "Remote São Paulo" recebe um transmissor com fone para o áudio tour idealizado pelo diretor suíço Stefan Kaegi.
Uma voz digital nos guiará ao longo de duas horas e meia. Primeiro pelo bairro do Belém e, depois, após uma viagem pelo metrô, até a Sé e pelos seus arredores.
Um dos grupos que levam atualmente o teatro à rua, o alemão Rimini Protokoll busca chamar atenção para os automatismos com os quais transitamos pelas cidades. Brinca com a mecanização dos atos que resulta do uso de equipamentos eletrônicos.
Mas as perguntas que a voz nos coloca são pouco surpreendentes. No cemitério, fala-se sobre a finitude da existência. Uma quadra esportiva é motivo para pensar no corpo, na vulnerabilidade dele em frente de um hospital, no consumismo num hipermercado, na espiritualidade na Sé.
Para acabar com a nossa escravidão teleguiada, "Remote São Paulo" troça da dependência dos GPS, dos celulares e dos faróis de trânsito. Mas as alternativas são rasas. Quando somos convidados a ser espontâneos --a dançar, pular, correr--, somos novamente manipulados. Agora para sermos livres e felizes.
Como demanda o espírito da época, fazemos também uma pequena manifestação. Não somos apenas incentivados a ocupar o palco urbano, atuamos ainda como público que aprova a interpretação dos transeuntes. Mas nunca enchemos o espaço público, tudo é mero entretenimento.
Enquanto a experiência de percorrer as ruas em "bando" é inusitada --satiriza-se também a coletividade, a competição e a liderança relacionadas-- e às vezes divertida, as propostas de reflexão e de vivência permanecem superficiais.
É possível que o péssimo sinal do transmissor atrapalhe. O espetáculo já passou por diversas cidades europeias, onde foi sempre adaptado ao local. Em São Paulo, o elevado número de antenas dificulta.
Mas é também possível que São Paulo requeira um outro tour. Um tour que não esteja endereçado a um "flâneur" europeu à procura de um pouco de aventura e sentido numa cidade bonita e ordenada. Faltava uma proposta que dialogasse mais com o caos urbano desta megalópole.
REMOTE SÃO PAULO - ÁUDIO TOUR TEATRAL
QUANDO hoje e amanhã, às 17h
ONDE Sesc Belenzinho (r. Padre Adelino, 1.000; tel. 0/xx/11/ 2076-9700)
QUANTO de R$ 5 a R$ 25 (ingressos esgotados para amanhã)
CLASSIFICAÇÃO 18 anos