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Mostra no Rio revê obra de Antonio Manuel

Artista célebre por invadir museu nu em 1970 quer se distanciar de seu passado político

DO ENVIADO AO RIO

É uma explosão calculada. Fragmentos de carvão estão pendurados do teto como meteoritos congelados no momento em que se espatifaram contra a atmosfera. Eles ficam imóveis, flutuando na ponta de fios de náilon, até que alguém esbarre neles.

"Não pode ir entrando direto aqui, senão mancha", diz Antonio Manuel, artista que criou a instalação há quase 20 anos e agora remonta a obra em mostra individual no Museu de Arte Moderna do Rio. "É uma coisa para o corpo, uma selva impenetrável."

De certa forma, desde que Manuel invadiu pelado o vernissage do Salão de Arte Moderna nesse mesmo museu em 1970, apresentando o próprio corpo como obra de arte, seu trabalho não deixou de pensar no embate --violento-- entre corpo e espaço.

Ele não quis mostrar fotografias da ação na mostra atual, mas suas instalações quase todas parecem ter como pano de fundo noções de fragilidade e equilíbrio, ou uma síntese estranha entre sensações de violência e paz.

Logo na entrada, Manuel ergueu muros de alvenaria em cores vibrantes. Construídas dentro do museu, as estruturas foram então marretadas e têm buracos que deixam ver as paredes seguintes.

"Elas viram uma passagem", descreve o artista. "É algo magnético. Você é puxado para dentro dos buracos."

Do lado de lá, além das barreiras, uma série de obras torna mais sutil essa reflexão, ao anular o magnetismo de imagens trágicas famosas.

Duas delas são peças novas que retomam as célebres intervenções sobre jornal que Manuel fez nos anos 1960, em repúdio ao regime militar.

Enquanto um vídeo mostra manchetes recentes sobre "miséria e violência", gotas d'água pingam sobre a tela, embaçando a imagem.

Manuel também encheu três tanques de água em que mergulhou páginas de jornal e fotografias de chacinas, criando um laboratório fotográfico às avessas, em que as imagens se apagam na claridade em vez de se fixarem.

Esse apagamento se radicaliza na última peça da mostra --um jardim de estruturas metálicas vazadas que lembram a diagramação de páginas de jornal, sem nada no lugar de textos e imagens.

Também tem a ver com um esforço do artista em se distanciar do próprio passado para mostrar outras vertentes de sua obra. Embora ainda ancoradas na política, suas peças buscam maior equilíbrio e pureza formal.

"Tudo é dirigido ao corpo", diz Manuel. "Não quero ser só o artista que ficou nu. Mas esse é o espaço onde isso ocorreu. E, pensando bem, estou nu aqui de novo."


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