Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Músico de jazz Yusef Lateef morre nos EUA aos 93 anos
Flautista e sax-tenorista virtuoso, compositor gravou com Miles Davis
Artista convertido ao islamismo estudou instrumentos de vários países e foi precursor da world music
Yusef Lateef, morto na manhã da última segunda-feira aos 93, não fazia jazz --fazia música "autofisiopsíquica", como definia: música emocional, espiritual e física.
Nascido no Estado americano do Tennessee, Lateef ainda criança mudou-se com a família para a cidade de Detroit, onde se ligou à cena musical com instrumentistas como Milt Jackson, Elvin Jones, Paul Chambers.
Inicialmente conhecido como Bill Evans (homônimo do famoso pianista), o músico se converteu ao islamismo na década de 1950 e assumiu o nome Yusef Lateef.
Sax-tenorista virtuoso, flautista dos maiores, ainda jovem integrou bandas como a orquestra de Dizzy Gillespie.
Lateef dedicou-se intensamente aos estudos de composição e de diversos instrumentos de sopro, como oboé, flautas de bambu e de vidro e instrumentos étnicos como a flauta africana sarewa, o sopro shofar e a espécie de oboé indiano shehnai.
Experimentador incansável, em suas gravações e apresentações fazia música humana, com profundidade espiritual em cada nota soprada e em cada composição escrita.
'HUMILDE E GRATO'
Dedicando-se à pesquisa de diferentes ritmos, envolveu-se intensamente com música africana e oriental, ajudando a inventar há mais de meio século o que hoje é chamado de world music.
No começo da década de 1980, viveu na Nigéria, onde era pesquisador e consultor ligado à Universidade Ahmadu Bello, em Zaria.
"Cada país tem suas estéticas particulares, como cada pessoa tem sua linguagem. As pessoas expressam experiências, desejos, crenças e conhecimento através da música", dizia.
Desde 1956, quando gravou seu primeiro álbum como líder, foram mais de cem discos próprios e muitas sessões com figuras como Miles Davis e Charles Mingus.
Ao lado de nomes como John Coltrane (1926-1967) e Pharoah Sanders, 73, fez parte da geração que implodiu o jazz em meados dos anos 1950 e 1960, estendendo os limites da música improvisada afro-americana.
Em 1988, Lateef ganhou um Grammy pelo álbum "Yusef Lateef's Little Symphony".
"Tento não ser orgulhoso, minha aspiração é ser humilde, servil e grato", afirmou o músico em entrevista à Folha, em 2011, durante sua única vinda ao Brasil, para dois shows no Sesc Pompeia, em São Paulo.
A causa da morte de Yusef Lateef não foi divulgada. Ele deixa a mulher, um filho, uma neta e bisnetos.