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Crítica cinema
'Feito Gente Grande' retoma olhar francês sobre mundo infantil
Filme da diretora Carine Tardieu é nostálgico e foge dos longas de entretenimento que pais levam filhos para ver
Capturar o mundo adulto da perspectiva das crianças e sobrepor a fantasia e a desilusão da realidade é um motivo frequente no cinema francês, de tempos em tempos revisitado em filmes extraordinários e outros mais comuns.
"Feito Gente Grande", com estreia prevista para a próxima sexta, retoma a tradição na forma de crônica de uma etapa na infância de Rachel, uma menina de nove anos que começa a história escrevendo uma carta para lembrar uma alegria que perdeu.
A máquina de escrever na primeira cena, depois carros, telefones, figurinos e canções projetam essa infância num passado recoberto com aura nostálgica, tempo perdido também na forma das coisas.
Lá, Rachel segue as ordens da mãe um tanto neurótica e observa o pai cumprir as funções de marido cansado. Na escola, a coleguinha Valérie faz o papel de parceira de jogos e desobediências, oferecendo-lhe um laço entre iguais. Por outro lado, a família desregulada da amiga surge como um campo de experiências novas, mais liberais.
As duas vão, cúmplices, desafiar a rigidez escolar, expor a hipocrisia moral, brincar com a sexualidade de modo lúdico e sem pudores.
Isso torna "Feito Gente Grande" uma produção distinta dos filmes infantis que os pais escolhem despreocupadamente como diversão. A abordagem aqui não é a do entretenimento que trata o público de qualquer idade como criança.
Ao contrário dos bobinhos "O Pequeno Nicolau" e "A Guerra dos Botões", exemplos recentes do cinema francês focados em crianças, "Feito Gente Grande" aborda as questões de sempre com menos idealismo e mais ironia, o que o torna um filme muito mais divertido.