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Rappers fazem 'rolezão' na Coreia do Norte

Pacman e Peso, de Washington, lançam clipe rodado na ditadura asiática e patrocinado por vaquinha na internet

Empresário da dupla americana diz não ter tido dificuldades para filmar no país: 'A polícia não entendia'

RAUL JUSTE LORES DE WASHINGTON

Uma vaquinha pela internet patrocinou um "rolezão" pela Ásia dos rappers Pacman e Peso, que se tornaram os primeiros artistas americanos a gravarem um videoclipe na Coreia do Norte.

Os dois jovens da periferia de Washington lançaram neste mês no YouTube os primeiros clipes da aventura asiática que aconteceu no final de novembro, sob temperaturas de -10ºC.

O primeiro clipe, "Escape to North Korea" (fuga para a Coreia do Norte), traz cenas dos dois diante do mausoléu onde está enterrado o ditador Kim Il-sung (1912-1994) e no metrô de Pyongyang.

Apesar das péssimas relações entre EUA e a comunista Coreia do Norte, a dupla jamais foi importunada, mesmo sem "permissão" oficial para gravar lá.

"A polícia local não entendia bem o conceito de videoclipe, nem os guias sabiam o que era rap. Viram os dois dançando diante da pequena câmera que levei e acharam engraçado", diz o empresário da dupla, Ramsey Aburdene, 25.

Aburdene, filho de palestino com alemã, nascido em Washington, também é rapper nas horas vagas, enquanto trabalha como gerente de um banco na capital americana. A ideia do "rolezão" é dele, que já esteve em vários Estados brasileiros e nos cinco continentes.

"Tenho amigos aqui de Washington que fizeram uma campanha chamada Skate pela Paz' para doar livros em Cuba. Pensei: por que não ir para a Coreia do Norte também?", disse à Folha no seu bagunçado quarto em um casarão transformado em estúdio musical, no bairro de Mount Pleasant.

Os dois rappers, sentados na cama de Aburdene, têm dificuldade em responder o porquê de filmar na Coreia do Norte. Eles não fazem nenhum pronunciamento político. "Mas por que não? Não vejo porque não ir pra lá", diz Pacman (Anthony Bobb), 19.

O empresário conheceu a dupla em junho, e em agosto decidiram lançar a campanha para arrecadar fundos para a viagem no site Kickstarter.

Já tinham arrecadado US$ 6 mil (cerca de R$ 14 mil), quando um banqueiro de investimentos americano, que vive em Hong Kong e é fã de rap, doou sozinho US$ 5 mil e os convidou para ir a Hong Kong e a Ulan Bator, na Mongólia, onde tem várias propriedades. Gravaram um clipe em cada cidade e ainda em Pequim, na China.

Peso (Dontray Ennis), 20, diz que achou Pyongyang parecida com sua cidade. "É cheia de avenidas largas, de monumentos, edifícios brancos enormes. Parece o centro de Washington", ri.

Todos os passeios aconteceram em ônibus oficiais com guias autorizados. Não puderam sair do hotel e circular sozinhos. Peso jamais sentiu medo. "Nasci e cresci na quebrada mais perigosa de Washington, vou ter medo de quê?"

Ambos descobriram que só existe música tradicional coreana no país, e que ninguém conhecia música americana. Mas um guia comentou, discretamente, que conhecia o hit "Gangnam Style", da vizinha (e inimiga) Coreia do Sul, provando que alguma pirataria já chega na capital.

"No voo de Pequim a Pyongyang, vimos os ricos norte-coreanos carregando mil coisas que só podem comprar na China, e que não existem lá", lembra o empresário da dupla.

A publicidade que conseguiram veio acompanhada de várias críticas na internet --que os dois estariam "apoiando um regime autoritário" e que "Dennis Rodman [que jogou basquete para o ditador] está fazendo escola".

"Vimos que é um país pobre, congelamos lá, não há aquecimento", conta Peso.

"Mas não misturamos povo com governo", diz Pacman. "Se você é simpático e respeitoso, você é bem tratado. Não são alienígenas, são gente como a gente."


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