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Peça leva inveja de Salieri contra Mozart a picadeiro

'Um Réquiem para Antonio' dá tom circense à rivalidade dos compositores

Com direção de Gabriel Villela, espetáculo forja delírio de italiano na hora da morte; versão é contestada por músicos

GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO

Quando o dramaturgo Dib Carneiro Neto foi convidado pelo ator Elias Andreato a escrever sobre o compositor italiano Antonio Salieri (1750-1825), não gostou muito da ideia: "Pensei: Ai... Já teve filme, já teve peça, vamos falar sobre isso de novo?'."

Pois era justamente essa a proposta. Assim sendo, em "Um Réquiem para Antonio", Dib volta a explorar a história de Salieri em seu ponto mais doloroso: a versão de que o compositor italiano teria sabotado a carreira de um sujeito bem mais talentoso que ele, Mozart (1756-1791).

É a mesma abordagem que levou o filme "Amadeus" (1984), de Milos Forman, a ganhar oito estatuetas do Oscar.

Com direção do mineiro Gabriel Villela, a peça entrou em cartaz no Tucarena na última sexta-feira.

"O argumento que me pegou foi a questão da inveja, tema muito atual neste mundo em que todos querem ser celebridade. Antigamente, até a inveja era algo mais nobre", afirma Dib.

CONFLITO

A dificuldade em aceitar o tema não residiu apenas no possível demérito da repetição: o retrato de um Salieri invejoso e mau já caiu por terra. Entre músicos eruditos, essa versão, explorada também pela peça "Mozart e Salieri" (1830), de Aleksandr Púchkin, é vista como lenda.

"Mas que conflito teríamos então? Nenhum", diz Dib. "Os puristas vão reclamar, mas este virou o maior exemplo de caso de inveja artística. Virou tão lenda que achamos melhor ficar em cima do mito", explica.

Para evitar reclamações, o espetáculo, também por meio da direção de Villela, recusa um tom biográfico ou uma versão espelhada na reconstrução dos figurinos de época. O caminho foi abstrair pela verve do delírio.

A peça retrata as horas que antecedem a morte de Salieri, o protagonista da história. Mozart já está morto, portanto, mas, como uma assombração, encontra-se em cena.

Há outras máscaras propostas pela direção para localizar o mito de Salieri no campo do devaneio. Os intérpretes --Elias Andreato como Salieri e Claudio Fontana como Mozart-- usam narizes de palhaço. E a cena toma forma numa espécie de picadeiro.

O figurino e os objetos de cena compõem um "crash" de estampas, com menções que vão da tapeçaria indiana aos tecidos vendidos na rua 25 de Março. A busca é "por valorizar os aspectos mais bufônicos", diz Villela.

O barroquismo também contamina a escolha da trilha. Às composições de Mozar e de Salieri, misturam-se canções populares, como "Passarim", de Tom Jobim, e "Bang Bang" imortalizada pela voz de Nancy Sinatra.


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