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Crítica - Drama

Peça mistura ficção e realidade em Heliópolis

Inspirada em Tarantino, 'Vira-Latas de Aluguel' usa ruas e espaços do bairro para fazer um retrato da violência

MARCIO AQUILES CRÍTICO DA FOLHA

Adentrar a comunidade de Heliópolis por ruelas e sob a regência de um bandido.

O espetáculo "Vira-Latas de Aluguel" proporciona essa experiência teatral naturalista in loco, imbuindo o público no ambiente real da periferia paulistana em meio a um enredo ficcional.

A imersão começa dentro da van que leva os espectadores ao local. Um vídeo exibe um programa de um canal comunitário, que aponta problemas enfrentados pelos moradores no dia a dia.

Após a chegada a Heliópolis, os espectadores caminham até um boteco, onde acontece o prólogo em que parte do elenco joga sinuca aos goles de cerveja gelada.

Em seguida, dirigem-se até o espaço do Cine Favela, transformado cenicamente em uma igreja evangélica, onde se desenrola a trama de um roubo que termina com o membro da gangue baleado.

Selecionado por meio de um projeto de capacitação teatral, o elenco surpreende com um desempenho sensível às demandas da peça.

Hora ou outra os trejeitos do cocainômano ou a disposição física durante as brigas e discussões tangenciam o exagero, mas no geral estão de acordo com a gramática proposta pela encenação, inspirada no filme "Cães de Aluguel", de Quentin Tarantino.

Além disso, alguns moradores e histórias do bairro foram retratados no texto escrito pelo diretor Daniel Gaggini em parceria com os atores.

A dramaturgia é simples, mas não deriva em clichês. A violência e a cultura da marginalidade são pano de fundo para personagens impagáveis, como o patrão glam-punk de salto alto, franja alisada e cinto de balas de rifle.

Ou o torturador de óculos de acetato que usa avental de açougueiro enquanto dança balé e martela membros de suas vítimas. A caracterização indumentária está em perfeita consonância aos biotipos dos atores, que por sua vez adequam-se com exatidão aos seus personagens, um dos trunfos da montagem.

Confinado ao pequeno espaço convertido em teatro, o público é constantemente surpreendido por gritos, portas batendo, blackouts e objetos arremessados a centímetros de seus assentos. Cardíacos são inclusive desaconselhados a permanecerem.

Após reviravoltas trágicas, a ação volta à rua para um desfecho que combina o viés moralizante da crítica social ao caráter cômico do embuste, tudo em meio a motos barulhentas, crianças brincando e cheiro de churrasco.


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