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Em trabalho inédito, Amis narra amor no Holocausto
Romance que se passa em campo de concentração deve sair em setembro
Escritor britânico, que costuma passar férias no Uruguai, diz que o país de sua mulher é o 'mais legal do mundo'
Enquanto a obra de Martin Amis se consolidava do ponto de vista literário, o escritor passou a polemizar no território da política.
Em 2002, lançou "Koba The Dread", em que expunha os crimes e contradições do stalinismo e, com isso, tentava atingir também os intelectuais britânicos de esquerda.
"Foi uma espécie de diálogo com a geração de meu pai [o escritor Kingsley Amis] e com a minha formação enquanto estudante em Oxford."
No quinto aniversário do ataque às Torres Gêmeas de Nova York, em 2006, Amis escreveu um artigo no jornal inglês "The Observer", criticando o islamismo, causando repercussão e revolta no mundo intelectual, rendendo fervoroso debate com o filósofo marxista Terry Eagleton.
"Não creio que ser um ficcionista signifique estar alheio a questões de seu tempo, ainda mais nós, que vivenciamos a grande transformação do mundo após o 11 de Setembro", diz.
URUGUAI
Os últimos anos, porém, foram de certa reclusão. Amis e a família passaram três verões na praia de Jose Ignacio, perto de Punta del Este. Isabel, sua segunda mulher, é de ascendência uruguaia.
Dali, instalou-se, também, como um observador da atual realidade latino-americana.
"É um continente muito vivo. O Brasil, com todos os problemas, é uma potência em ascensão. O Uruguai, bem, o Uruguai é o país mais legal do mundo... Enquanto os argentinos são destemidos adoradores da corrupção, uns verdadeiros piratas que admiro. E me causaram boa sensação também o Chile, muito civilizado, a Colômbia, em processo de modernização."
Amis volta a temas históricos em seu novo trabalho, cujo lançamento está previsto para setembro. Acaba de finalizar um romance sobre o Holocausto. "Zone of Interest" é história de amor que se passa dentro de um campo de concentração.
"Volto ao Holocausto porque é um dos únicos assuntos sobre os quais deveríamos pensar todos os dias. Na verdade, me inspiro no que disse W.G. Sebald [escritor alemão], que nenhuma pessoa séria pensa noutra coisa."
Acrescenta que imaginar e reproduzir os horrores do Holocausto o fez sentir-se balançado por dentro, "senti que estava lidando com o Mal diretamente. E essa é a raiz do nazismo, o manejo do Mal."
Amis veio ao Brasil em 2004, para participar da Festa Literária Internacional de Paraty e diz que espera voltar neste ano para lançar os novos livros.