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Fotos que dançam
As várias formas de se capturar a essência da dança são destaque de exposição em São Paulo e de novos livros de fotografia
Olhe a foto ao lado. Nas imagens embaralhadas, o que fica nítido -- a torção do corpo, as mãos e as expressões dramáticas --basta para definir a essência dessa coreografia, criada e dançada por Kazuo Ohno (1906-2010).
A imagem em preto e branco está na exposição "Eikoh Hosoe - Corpos de Imagens", que será aberta amanhã no Sesc Consolação, em São Paulo. A foto é parte do ensaio "Butterfly Dreams", uma espécie de fotobiografia do do dançarino e mestre do butô, Kazuo Ohno.
Dos sete ensaios que compõem a exposição do fotógrafo japonês Hosoe, 80, três são sobre dança. Cada uma de suas fotos tenta registrar num momento o todo de uma coreografia ou de um estilo pessoal de dançar. Sem cair no mero registro nem nos clichês de "foto de balé", como por exemplo o detalhe do bailarino amarrando a sapatilha.
Outro lugar-comum é achar fácil fazer uma bela imagem com condições tão boas: formas e corpos lindos, figurinos e cenários muitas vezes deslumbrantes.
"Tecnicamente, você já começa com duas dificuldades: pouca luz e movimento acelerado", diz o fotógrafo paulista João Caldas, que há 30 anos fotografa dançarinos.
Mas o mais difícil, para ele, é reproduzir a coreografia: "Tem que entender como funciona o movimento, qual é o seu percurso e o seu ápice".
Já o fotógrafo Marcelo Maragni mescla técnicas para captar gestos. Os resultados estão em "Jogo de Corpo" (Martins Fontes, R$ 91, 254 págs.), com ensaios da São Paulo Companhia de Dança.
Com técnicas como exposição muito lenta e flash remoto (fora da câmera), Maragni fotografou os bailarinos deixando rastros de luz.
"Quis mostrar onde passou o braço, a perna, o quanto girou. Isso dá um valor ao trabalho do bailarino", afirma.
Um valor que a fotógrafa Sílvia Machado, 50, conhece em cada músculo do corpo. Bailarina profissional por 20 anos, ela começou a fotografar por acidente. Uma lesão a obrigou a parar de dançar. Viu que fotografar também era dançar. "Quando fotografo, danço todos os papeis."
A fotógrafa carioca Paula Lobo, 35, não se profissionalizou, mas estudou dança dos três aos 20 anos. Decidiu se dedicar à fotografia especializada e mudou-se para Nova York para realizar seu sonho.
Lobo usa como cenários paisagens de tirar o fôlego que estejam de alguma forma ligadas àquela criação ou espaços onde bailarinos ensaiam. Essa viagem está agora em seu livro, recém-lançado pela editora Senac SP, "Quando Eles Dançam" (R$ 139,90, 211 págs.).
Além do ensaio "Butterfly Dreams", com o dançarino Kazuo Ohno, estão na mostra do Sesc as séries "Kamatachi", que o fotógrafo Hosoe fez com Hijikata Tatsumi (1928-86), um dos fundadores do butô, e "Ukiyo-e" (2003), sobre o estúdio de dança experimental Abestos, fundado por Hijikata.
CORPOS DE IMAGENS
QUANDO seg. a sex., das 10h às 21h30; sáb. e feriados, das 10h às 18h30; até 3/5
ONDE Sesc Consolação, r. Dr. Vila Nova, 245, tel. (11) 3234-3000
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