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Crítica - Samba
Com belos arranjos, CDs de Jair Rodrigues não surpreendem
LUIZ FERNANDO VIANNA ESPECIAL PARA A FOLHAAos 75 anos, Jair Rodrigues apresenta um projeto com jeito comemorativo: dois CDs complementares (ambos com o título "Samba Mesmo") com produção do filho, Jair Oliveira. A boa notícia é que evitou a fórmula caça-níquel de regravar grandes sucessos da carreira. É tranquilizador não ouvi-lo de novo em "Deixa Isso pra Lá" e "Disparada".
A má notícia é que faltou ousadia na montagem do repertório. Uma de Paulo Vanzolini? "Volta por Cima." Uma de Adoniran Barbosa? "Trem das Onze." Uma de Dolores Duran? "A Noite do Meu Bem." E só há três inéditas entre as 26 faixas, nenhuma delas brilhante.
Um intérprete com a experiência de Jair tem o direito de registrar canções que ama e que ainda não havia gravado. Mas ao enfileirar músicas mais do que conhecidas, ele tangencia a figura do crooner de casa noturna, perdendo a chance de surpreender.
O principal fator a distanciá-lo dos chãos das churrascarias é a excelência dos arranjos e dos músicos. Um trabalho que conta, em praticamente todas as faixas, com os grandes Nailor Proveta (clarinete e saxofone) e Swami Jr. (violão de 7 cordas) não pode ser menos do que bom.
Dentre outros momentos notáveis, os dois dão linda roupagem a "Serenata do Adeus" (Vinicius de Moraes), uma das melhores interpretações de Jair. Com seu clarinete, Proveta consegue transformar até a melosa "Como É Grande o Meu Amor por Você" (Roberto Carlos) em algo interessante.
Seu arranjo para "Das Rosas" (Dorival Caymmi), com início em tom de gafieira, também é muito feliz.
Não há salvação para coisas como "É" (Gonzaguinha), uma das bobagens mais superestimadas da música brasileira. E o final exagerado em "Eu Não Existo sem Você" (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) não combina com a opção pelo registro à capela.
Jair estourou nos anos 1960, pouco depois de João Gilberto firmar um novo cânone no canto brasileiro. Andou sempre na contramão do intimismo, e está aí sua força, além da bela voz. Só faltou, agora, arriscar um pouco mais no repertório.