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Presença estrangeira gera debate no meio editorial
Venda da Objetiva para o grupo Penguin reforça tendência da última década
Para empresas, entrada de dinheiro estrangeiro fortalece mercado; editoras menores veem desvantagens
O anúncio da última quarta causou burburinho, mas não foi exatamente uma novidade no mercado editorial brasileiro: a Penguin Random House, maior editora do mundo, adquiriu todos os selos de interesse geral do grupo espanhol Santillana e, por tabela, a brasileira Objetiva.
Há pelos menos uma década o capital estrangeiro marca presença no mundo editorial brasileiro --e provoca reações bem diversas.
Em 2001, por exemplo, a própria Santillana comprou a Moderna. Quatro anos depois, o grupo espanhol adquiriu 76% da Objetiva.
Outro conglomerado, o Planeta, instalou-se por aqui em 2003. Seis anos depois, foi a vez do grupo português Leya aportar no Brasil.
Há três anos, a britânica Penguin, antes de se associar à editora Random House, do grupo alemão Bertelsmann, comprou 45% da Companhia das Letras.
Com a aquisição desta semana, a Penguin Random House Brasil, composta por Companhia e Objetiva, deve ocupar o terceiro lugar no mercado de interesse geral, atrás da Record e da Sextante.
As duas editoras afirmam que seus catálogos seguirão independentes, mas ainda não deram detalhes de como funcionará a colaboração.
Roberto Feith, diretor da Objetiva, vendeu suas ações, mas continuará a administrá-la. "Agora estamos ligados a um grupo que está em 40 países. É uma oportunidade de aprendizagem fabulosa", diz.
"A Objetiva não tem grande atuação na área de ficção mais comercial. A parceria com a Penguin pode ajudar a crescer nesse segmento."
Pascoal Soto, diretor editorial da Leya no Brasil, avalia que a entrada de grupos estrangeiros ajudou a profissionalizar o mercado e valorizou o passe dos escritores nacionais. Por outro lado, tornou mais difícil a vida de pequenas editoras.
"Elas estão sofrendo para sobreviver. Terão que se movimentar para poder competir, para dar visibilidade a seus livros. Acho que a fusão com outras empresas pode ser uma possibilidade para elas."
Haroldo Ceravolo Sereza, presidente da Libre (associação que congrega 120 editoras de pequeno e médio porte) diz que o processo de internacionalização é preocupante.
"Essas associações precisam ser discutidas pela sociedade. Podemos ter ganhado em conhecimento, mas isso coloca em risco a bibliodiversidade. Pode significar a morte das pequenas editoras."
"A globalização editorial sacrifica o pluralismo, a cultura e os autores nacionais", comenta Ivana Jinkings, diretora editorial da Boitempo.
Por sua vez, Luiz Schwarcz, diretor-geral da Companhia das Letras e supervisor das atividades da Penguin Random House Brasil, destaca os benefícios da troca de experiência global para o Brasil.
"Desde que a Penguin entrou, a Companhia ficou mais brasileira, editou mais títulos brasileiros. Nossos autores ganharam espaço lá fora", afirma Schwarcz.