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Peça de Tchékhov utiliza 200 km de fios no cenário

Em 'O Jardim das Cerejeiras', cordões simbolizam complexidade do texto

Atores interpretam um mesmo papel e trocam de personagens para reforçar conflitos de classes na Rússia

GABRIELA MELLÃO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Duzentos quilômetros de fios revestem o teatro do Sesc Bom Retiro. Dispostos com pequenos espaços entre si, nas laterais e no fundo do palco, são o cenário de "O Jardim das Cerejeiras", peça que estreou no último sábado.

Os fios simbolizam as diversas camadas que o dramaturgo russo Anton Tchékhov (1860-1904) imprimiu nos personagens de sua obra, considerada fundamental sobretudo por iluminar a complexidade do homem.

"Busquei enfatizar o impressionismo de Tchékhov. Embora seja considerado realista, ele escapa desta linguagem. Sua obra tem lirismo, e seus personagens, espaços internos vastos", diz Marcelo Lazzaratto, diretor da premiada Cia. Elevador de Teatro Panorâmico.

O encenador interfere de forma poética nesse texto sobre o declínio de uma família aristocrática em meio às mudanças do início do século 20. Usa o corredor de fios como "campo de latência, da possibilidade do vir a ser", diz.

O cerejal do título simboliza a Rússia. As diferentes percepções dos personagens sobre essa terra sintetizam as divergências de classes.

Para a aristocrática Liuba, dona do jardim cuja terra vai a leilão para o pagamento de suas dívidas, as cerejeiras representam poder e beleza.

Para o comerciante Lopakhin, as cerejeiras não possuem atributo nenhum. Apenas o local onde se encontram tem valor, o qual, segundo sua visão, deve ser loteado para a construção de chalés de veraneio.

Na busca por retratar a vastidão do homem, Lazzaratto também escala mais de um ator para interpretar um mesmo personagem. No caso de Firs, o empregado idoso da família, vai ainda mais longe. Todo o elenco vive Firs.

"A ideia é reforçar camadas e contradições, tornando personagens mais grossos e largos", explica Lazzaratto.

Na última cena, a atriz Carolina Fabri, a mesma que vive Liuba, interpreta o serviçal Firs. A sobreposição de extremos em um só corpo evidencia a dimensão filosófica da peça, materializando as transformações da vida.


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