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Bienal quer 'transgredir e transcender'

Próxima edição da mostra paulistana, que começa em setembro, terá mais artistas do Brasil e do Oriente Médio

Sem estrelas de apelo comercial, recorte é mais enxuto do que em edições passadas, entre consagrados e novatos

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Enquanto imagens eram projetadas atrás deles, entre elas a de alguém pichando uma parede com uma porta que seria o "atalho à esperança", os curadores da próxima Bienal de São Paulo tentavam explicar como será a exposição que começa em setembro.

Depois de reflexões vagas, surgiu o que pode ficar como slogan do evento. Se tudo correr bem, esta 31ª edição da mostra, orçada em R$ 24 milhões, deve entrar para a história como a "trans-Bienal".

"Estamos falando de transgressão, transcendência e transexualidade", diz Luiza Proença, uma das curadoras no time liderado pelo britânico Charles Esche. "É pensar sempre na transformação."

Na prática, isso se configura no esforço retórico de chamar a lista de artistas dessa mostra, divulgada em parte ontem em entrevista coletiva, de elenco de projetos, em que os autores se associam uns aos outros para criar obras.

Esses trabalhos, na ótica transcendental dos idealizadores da mostra, também seriam mais do que obras, mas ritos de passagem ao longo da "jornada" que querem traçar rumo à tal transformação, um movimento que começa com as situações de conflito.

"Trabalhamos em estado de alerta", diz a curadora espanhola Nuria Enguita Mayo. "As manifestações ao redor do mundo falam de desejos, não de reivindicações. E desejos seguem uma outra lógica, anônima e subjetiva, e por isso eles são contagiosos."

Utopias à parte, a seleção divulgada até agora revela pés firmes plantados em zonas de tumulto recente --a América do Sul, com 11 artistas, entre consagrados e novatos, lidera a escalação, seguida de nove nomes europeus e mais sete do Oriente Médio, três deles palestinos.

No total, serão 75 artistas, um recorte mais enxuto que em edições passadas, que passaram de cem escalados. Também não haverá grandes estrelas da arte, pelo menos não as de apelo comercial.

Estarão no pavilhão nomes aclamados pela crítica, como a israelense Yael Bartana, com um vídeo que simula a destruição de um templo da Igreja Universal em São Paulo, o turco Halil Altindere, que reage aos recentes conflitos em Istambul, e Tunga, com suas peças que lembram experimentos de alquimia.

Entre os novatos, Romy Pocztaruk, fotógrafa que vem ganhando espaço no circuito nacional, terá uma obra em diálogo com o chileno Juan Downey, artista morto em 1993 que se consagrou ao documentar rituais dos povos indígenas da América do Sul.

Em paralelo aos vídeos de Downey, estarão imagens que Pocztaruk fez ao longo da Transmazônica. Armando Queiroz, outro brasileiro em ascensão, foi escalado como complemento às jornadas pela América e pela floresta, com um trabalho que discute a identidade amazônica.

ARTE ALIENÍGENA

Um jornalista então pergunta se isso não resvala no risco de enxergar o país e a região com um viés exótico.

Pablo Lafuente, outro espanhol no time de curadores, responde que a mostra será "mística e política". "É uma Bienal política por sua ênfase na experiência recente do mundo, e mística na tentativa de mostrar que há modos distintos de pensar e viver."

Não por acaso, a mostra se chama "Como Falar de Coisas que Não Existem". Muito do que será discutido ainda está longe de se materializar no pavilhão do Ibirapuera.

Voltando ao exotismo, Lafuente inverte a reflexão. "Arte contemporânea é a coisa mais exótica que existe. Se você não conhece, tudo isso pode parecer alienígena."


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