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Gregorio Duvivier

Obrigado, amigos

Lucas perdia a cabeça no futebol; Rodrigo sempre me escolhia para o seu time, mesmo eu sendo um pereba

Marcio era viciado em bala Juquinha. Foi o primeiro de nós a ter uma namorada. Ia até a sua casa todo dia de ônibus, numa época em que a passagem custava 65 centavos.

Um dia fez as contas e descobriu que a visita lhe custava 26 balas juquinhas. Terminou com a namorada. "Gosto muito de você", ele disse. "Mas prefiro 26 balas Juquinha."

Bruno Nadkarni era gordinho, mas não tanto quanto o pai dele, nosso herói, que vinha buscá-lo na escola dirigindo um jipe da Segunda Guerra. Quando chamavam o Bruno de gordo, ele sorria e alisava a pancinha. "Obrigado". Um dia, me confidenciou: "Quando eu crescer, eu vou ter uma barriga igual à do meu pai."

Lauzouet era o amigo que sempre tinha balas mas, quando você lhe pedia uma, ele dizia que não podia te dar, porque elas pertenciam ao seu irmão. Nunca perguntei porque o seu irmão pedia pra ele guardar suas balas. Mas lembro que Halls eram balas caras em relação à concorrência: Freegells, Vita C e a famigerada bala de tamarindo.

Quando alguém tinha um pacote de Halls, devia-se guardar segredo. "Quem te deu essa bala?". O certo era dizer: "Desculpa, não posso te contar." Era uma questão de ética.

Lucas era sensível, mas perdia a cabeça no futebol. Uma vez, tacou um tênis na cabeça do Velasco porque ele perdeu um gol feito. Velasco saiu de campo chorando. Lucas até hoje não se arrepende do que fez. "Não foi só um gol que ele perdeu, foram vários". Fora isso, era um amor.

Jérémie era o craque na arte de inventar modas e expressões. Quando algo dava errado, ele dizia: "oh-oh, fanabena" e todo o mundo passava a repetir: "oh, oh, fanabena".

Fiquei enciumado quando ele começou a ter amigos do Caiçaras. As pessoas lá iriam começar a falar "fanabena". Mas sabia que em algum momento ele precisaria alçar novos vôos e implantar gírias mundo afora.

Rodrigo era meu melhor amigo e um minicraque das quadras de cimento. Sempre me escolhia pro seu time, mesmo eu sendo um pereba, que era como a gente chamava os pernas-de-pau como eu. Nunca reclamou dos gols que eu perdi. Nunca me tacou um tênis na cabeça.

Quando eu descobria que tinha prova no dia seguinte e não tinha anotado nenhuma palavra no meu caderno ao longo do ano inteiro, o Rodrigo rasgava as folhas do seu caderno e me passava elas por fax.

Sexta-feira é meu aniversário. Marcio e Lucas vêm de Brasília --mesmo a passagem custando uma infinidade de balas Juquinha.

Obrigado, amigos.


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