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Best-seller de 1964, série de Cony contra ditadura é relançada

Crônicas do jornalista no 'Correio da Manhã' sobre o golpe estão reunidas em nova edição de 'O Ato e o Fato'

Volume inclui relato memorialístico do escritor e apresentações de Otto Maria Carpeaux e Paulo Francis

LUCAS FERRAZ DE SÃO PAULO

Nas semanas seguintes ao golpe que derrubou o presidente João Goulart, em abril de 1964, enquanto os jornais continuavam servis ou contidos em relação ao novo regime, a única crítica escancarada na imprensa vinha da coluna "Da Arte de Falar Mal", que o jornalista e escritor Carlos Heitor Cony assinava no "Correio da Manhã".

Geralmente distante dos temas políticos, a reviravolta para Cony ocorreu no 1º de abril, quando o golpe sagrou-se vitorioso. Num passeio com a filha e o poeta Carlos Drummond de Andrade pelo posto seis de Copacabana, viram militares armando uma patética barricada na praia.

No dia seguinte, era publicado o primeiro de uma série de textos que entrariam para a história como um dos mais corajosos e ácidos documentos do jornalismo brasileiro, reunidos naquele ano em "O Ato e o Fato", livro que acaba de ganhar uma nova edição.

Organizada pelo editor Enio Silveira, a coletânea foi best-seller de 1964. Na noite de autógrafos no Rio, em julho daquele ano, o autor assinou 1.600 exemplares e viu a sessão se transformar num ato de repúdio à ditadura.

"O livro é um panfleto, com as qualidades e defeitos de um panfleto. Mas tem a força de um documento da hora", disse Carlos Heitor Cony, também colunista da Folha.

Em "Da Salvação da Pátria", a primeira das 59 crônicas, ele disse ter buscado apenas retratar uma cena de rua daquele passeio com a filha e Drummond. "Mas como a repercussão foi grande, gradativamente fui me engajando. Minha obrigação era combater a ditadura à minha maneira, nos jornais."

Nas colunas seguintes, com ironia e estilo demolidor, o jornalista não pouparia ninguém: a prepotência militar, os generais de proa do regime e políticos como JK, Carlos Lacerda e o próprio Jango.

A nona reedição de "O Ato e o Fato", da editora Nova Fronteira, tem textos de amigos como Paulo Francis e Otto Maria Carpeaux e inclui um relato memorialístico do autor, publicado há dez anos numa série da Cia das Letras sobre o golpe, seminal para se compreender o que aconteceu meio século atrás.

No texto "A Revolução dos Caranguejos", o autor rememora as colunas, o ambiente político e cultural da época e as perseguições que sofreu, como ameaças de morte, sua saída do "Correio da Manhã", prisões e o processo que enfrentou do então ministro da Guerra e futuro presidente Costa e Silva, que queria condená-lo a 30 anos de prisão por provocar, com os textos, atritos entre militares e civis.


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