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Entrando na dança

Espetáculos inéditos no Brasil são atrações de festival que começa hoje em São Paulo com dança ritualística e sacrificial do inglês Akram Khan

IARA BIDERMAN DE SÃO PAULO

Principal atração do 2º Festival O Boticário na Dança, a companhia inglesa Akram Khan abre o evento que começa hoje no Auditório Ibirapuera com sua interpretação para lá de livre de "A Sagração da Primavera", do russo Igor Stravinski (1882-1971).

"iTMOi" (na mente de Igor, na sigla em inglês) foi criado em 2013 para comemorar os cem anos da estreia da coreografia de Nijinski para "A Sagração" --um escândalo, na época, que se tornou o marco da dança moderna.

Khan não quis, a exemplo de outros coreógrafos, como Pina Bausch, recriar a coreografia. Preferiu dançar o que imaginou terem sido os conflitos internos de Stravinski ao criar a obra. No fundo, é a mesma ideia de sacrifício do balé centenário, em que uma jovem dança até a morte aos deuses da primavera.

E também é muito o que se passa na mente do próprio Khan. "Todas as religiões e sociedades precisam de algum tipo de sacrifício, rituais que podem ser violentos, mas também bons. Sou obcecado por eles e entendo a dança como ritual", diz Khan à Folha.

"iTMOi" começa transformando o ritual pagão da primavera no sacrifício de Abraão, "pai" dos povos semitas instado a matar o próprio filho como prova de fé ao Deus do monoteísmo.

O Abraão da Khan, vestido de túnica negra, clama aos céus numa sequência de piruetas à maneira dos dervixes, místicos islâmicos famosos por sua dança ritual feita de giros incessantes.

O prólogo mostra também duas características muito próprias de Khan: a espiritualidade ("Sempre busco por algo espiritual no que faço") e a inspiração em movimentos de diferentes culturas.

Ele é famoso por fundir o kathak, dança clássica indiana, com o experimentalismo contemporâneo.

MICHAEL JACKSON

Filho de bengaleses que imigraram para a Inglaterra, Khan, 39, começou a dançar aos três anos, em festas de família e de sua comunidade.

Aos sete começou a treinar kathak com um mestre indiano e passou a adolescência dividido entre aprender o estilo clássico e copiar à perfeição todos os passos de Michael Jackson em "Thriller".

"Minhas maiores influências na dança são Michael Jackson e Charles Chaplin", diz ele, que até os 19 anos, quando resolveu fazer faculdade de dança, nunca tinha visto uma coreografia contemporânea fora do mundo da música pop.

A dança urbana que inspirava Jackson está em "iTMOi", assim como braços do flamenco e saltos de danças folclóricas do leste europeu.

São estilos pesquisados pelo coreógrafo e, também, trazidos pelos bailarinos da companhia, saídos de vários países e com formações diversas que vão do hip-hop ao teatro físico.

Khan, que aos 14 anos foi convidado pelo diretor Peter Brook para atuar no filme "O Mahabharata" e já trabalhou com artistas como Anish Kapoor e Antony Gormley, transforma essas influências culturais em algo novo para o espectador --o que é uma espécie de mistério para ele.

"Não sei explicar como eu transformo movimentos tradicionais em dança contemporânea. Para mim, é como o sentido do sagrado: algo que você entende com o próprio corpo", diz ele.


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