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Análise
Livro do Rei fica nas fotos; obra proibida explora fatos
Roberto aprovou imagens suas com cabelo chapinha e dentes assimétricos
É interessante que o livro lançado agora se chame apenas "Roberto Carlos" enquanto o título da biografia de Paulo César de Araújo é "Roberto Carlos em Detalhes".
No livro enorme de fotos enormes, há muito Roberto Carlos e poucos detalhes. Predomina, literalmente, o culto à imagem de um ídolo que se vê como tal, imune aos interesses da plebe --embora seja esta que o faça ídolo.
Tão imune que topa um produto de R$ 4.500, inacessível para a grande maioria dos fãs. Mas deve haver quem compre. Há obsessivo-compulsivo para tudo.
E, para quem é louco pelo Rei, pode até valer pagar mais de seis salários mínimos pelo livro-bigorna. Há fotos sensacionais, em contraste com a pobreza visual da obra lançada por Araújo em 2006.
Só para citar uma, existe, na página 152, um belo retrato de Roberto apontando para a câmera. E há os muitos registros de seu início de carreira, da Jovem Guarda.
O Rei é tão idiossincrático que deixou passar até fotos que não o favorecem, como a da página 111, com cabelo chapinha e dentes assimétricos, zero glamour.
Também é idiossincrático o seu desejo de que as fotos contem uma história. O sentido que a edição escolhida deve fazer para o cantor não é claramente perceptível ao leitor (ou espectador, no caso) comum.
Entre as curiosidades notáveis estão as duas folhas de uma agenda de 1966 em que ele escreveu a letra da música "Namoradinha de um Amigo Meu".
A falta de uma organização cronológica não ajuda, mas isso o livro de Araújo também não tem, o que às vezes prejudica sua fluência.
Na biografia, porém, os temas estão esmiuçados: bossa nova, rock, sexo, política... Dá para escolher o capítulo de preferência.
No fotolivro do Rei, as seções são "Uma Vida", "Amor", "Aventura", "Fé", "Amigos e Família". Muitas emoções, poucos detalhes.
E não é sempre clara a relação entre os versos extraídos de suas canções e os capítulos nos quais estão. Nas escolhas de Araújo, os elos são claros.
A principal diferença é que o trabalho do jornalista se farta de documentação a ponto de ficar maçante. Podem ser feitas críticas ao estilo, não às informações.
Roberto preferiu não tratar de fatos, mas mostrar fotos. Isto já pode ser o início de muita coisa. Aguardemos mais por menos dinheiro.