Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica música erudita

Kazuhito Yamashita amplia a fronteira imaginativa do violão

Violonista japonês que ficou famoso por seus arranjos ousados de sinfonias fez sua primeira turnê no Brasil

SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA

A semana passada foi muito especial para a música clássica em São Paulo: começou com a pianista Mitsuko Uchida, passou pelo contratenor Andreas Scholl, teve a pianista Olga Kern e, no sábado (17), o violonista japonês Kazuhito Yamashita no teatro Maksoud Plaza.

Essa turnê é a tardia estreia no Brasil de um dos nomes centrais do violão mundial nos últimos 30 anos.

Nascido no Japão em 1961, Yamashita tornou-se célebre por arranjos ousados de obras sinfônicas, como "Quadros de uma exposição", do compositor russo Modest Mussorgsky (1839-1891).

O anúncio de sua vinda agitou o meio violonístico nacional e foi o assunto mais discutido na internet no fórum especializado violao.org. Embora forte na formação e exportação de talentos do violão clássico, o Brasil ainda tem poucas oportunidades de apreciar ao vivo os grandes nomes internacionais do instrumento.

Yamashita é sério e cheio de trejeitos. Movimenta bastante o corpo e chega a erguer totalmente o violão em passagens lentas. Ao final de cada peça, sai do palco, afina o instrumento e volta lentamente. Mantém distância do público, mas domina tudo à sua volta.

Com som bonito e digitação perfeita para ressaltar o canto da melodia, abriu o recital "Canção da Índia", extraída de "Sadkó", ópera do russo Rimski-Korsakov (1844-1908). Seguiu-se a silenciosa e oriental "Candlemas", composição de Keiko Fujiie, mulher de Yamashita.

Com o "Largo", segundo movimento da "Sinfonia n.9" do compositor tcheco Antonín Dvorák (1841-1857), o público paulista pode vê-lo tocar um de seus polêmicos arranjos sinfônicos.

A proposta está no limite da fantasia. Mas cada cor orquestral do original --seja o delicado solo de corne inglês ou a explosão nos metais-- encontra correspondência exata nos efeitos que cria, dos tremolos com um dedo só a diferentes rasgueos, do esfregar as cordas com a mão direita a harmônicos rápidos feitos com uma linha do baixo.

Na verdade, esse tipo de redução a partir de um original acompanha a história da música desde o século 19, e boa parte da produção de um compositor como Liszt (1811-86) é constituída por legítimas transcrições pianísticas de óperas e sinfonias.

Que isso tenha caído em desuso no século 20 não muda o fato de Yamashita ter encontrado soluções técnicas rigorosas, que dilataram as fronteiras imaginativas do violão.

BACH INTENSO

Fechou o programa a sua versão da "Suíte n.6" para violoncelo de Bach (1685-1750), em seis movimentos.

O violonista japonês faz um Bach sempre intenso, às vezes violento, quase bruto. E bastante heterogêneo, com muita diferença de timbre dos agudos brilhantes para os graves opacos, das passagens rápidas cortantes aos movimentos lentos sonoros e sustentados.

É um artista extremamente idiossincrático, mas que tem força para sustentar as suas escolhas.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página