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Cannes numa fria

Ao contrário do ano passado, quando a disputa foi quente, 67º edição do festival não teve grandes emoções

RODRIGO SALEM COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CANNES

Quem esperava um 67º Festival de Cannes tão quente quanto o do ano passado, que teve pelo menos três grandes filmes ("Azul é a Cor Mais Quente", "A Grande Beleza" e "Nebraska") na mostra competitiva, levou um balde de água fria.

Aliás, gelada: sem a menor disputa, a Palma de Ouro foi para o favorito "Winter Sleep" (sono invernal), do turco Nuri Bilge Ceylan, em cerimônia realizada no Palais des Festivals, na noite de sábado (24).

O sentimento entre a plateia e os jornalistas era de uma competição sem brilho, de poucos filmes de grande destaque. Antes mesmo de o festival começar, Ceylan era visto como aposta certa: afinal ele já tinha dois Grand Prix --por "Distante" (2002) e "Era uma Vez na Anatólia" (2011)-- e um prêmio de direção por "Três Macacos" (2008).

"Sinto-me estranho. O peso agora é diferente, mas é algo bom", disse friamente o cineasta, que dedicou a Palma "aos jovens turcos mortos ano passado" nos protestos que tomaram conta do país.

"Muitos sacrificaram suas vidas por nosso futuro e merecem esse prêmio", completou após a premiação.

O resultado do júri liderado pela cineasta Jane Campion ("O Piano") pareceu tão premeditado que o diretor Xavier Dolan comentou o estranho empate entre seu filme, "Mommy", e o de Jean-Luc Godard, "Adieu au Langage".

"Acho que foi um gesto deliberado por causa das nossas idades. E por procurarmos a liberdade no cinema, mas com estilos diferentes", disse o canadense, referindo-se ao fato de ser o mais novo diretor na competição, com 25 anos, dividindo o prêmio com o mais velho, de 83.

"Respeito Godard, mas não gosto de seus filmes. Não consigo me conectar ao seu estilo", disparou Dolan à Folha. O produtor Alain Sarde subiu ao palco para receber a honra no lugar de Godard --o cineasta anunciou dias antes que não iria ao evento-- e foi mais seco: "Ele já deve estar sabendo do prêmio, mas isso não vai mudar sua vida".

AZARÃO

O vice-campeonato do festival, o Grand Prix, foi a única surpresa da noite. Ninguém colocava o italiano "Le Meraviglie", de Alice Rohrwacher, entre os cotados para qualquer prêmio. Tanto que Sofia Coppola, uma das juradas, precisou explicar a escolha: "Achei o filme poético". Mas foi Jia Zhangke que jogou uma pá de cal no assunto. "Gostei do camelo", brincou sobre uma das cenas.

Apesar da fraca presença americana na competição, o país saiu com dois prêmios. Bennett Miller foi eleito o melhor diretor por "Foxcatcher", enquanto Julianne Moore foi escolhida a melhor atriz por "Maps to the Stars", do canadense David Cronenberg. Andrey Zvyagintsev, diretor do também gélido "Leviathan", filmado no norte da Rússia, levou como melhor roteirista.

O único momento mais caloroso da festa que teve Quentin Tarantino e Uma Thurman, Adrien Brody e Sophia Loren como apresentadores, foi na vitória de Timothy Spall como melhor ator por "Mr. Turner", de Mike Leigh. Seu celular interferiu no microfone. "Tenho uma mensagem de voz. Preciso segurar as lágrimas para desligá-lo."

Spall usou o telefone para ler os agradecimentos. "Estou emocionado. Acostumei-me a não esperar nada nestas festas. Passei metade da minha carreira como ator coadjuvante e agora estou aqui."


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