Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Osgêmeos trocam a rua por universo psicodélico

Nova fase da dupla paulistana resgata imaginário típico do Brasil profundo

Críticos veem na obra dos irmãos uma autenticidade que vai na contramão do meio elitista das artes visuais

DE SÃO PAULO

Diante de uma de suas telas na galeria Fortes Vilaça, em São Paulo, Gustavo Pandolfo, metade da dupla Osgêmeos, aponta o chão "molinho" e fala como quis pintar o "cheiro da terra", a "umidade do ar" e o sorriso tremeliquento no rosto de um de um de seus homenzinhos.

"Tudo que a gente pinta tem muita vida", diz Otávio Pandolfo, o outro gêmeo. "É uma fuga, mas ao mesmo tempo é descobrir por onde a gente anda, abrir portas e janelas para outra dimensão."

Entre o "carnal" e o "espiritual", Osgêmeos agora descrevem seus trabalhos com ares esotéricos e psicodélicos, tomando distância do universo urbano e cinzento do hip-hop em que começaram para "canalizar" um Brasil mais onírico e profundo.

"É como se a gente estivesse meditando, orando", diz Gustavo. "Tem uma onda que passa pelas nossas cabeças. É uma parada espiritual."

De fato, sentados lado a lado, Osgêmeos parecem ser um só. Enquanto um fala, os olhos do outro parecem se perder no horizonte distante só para voltar à conversa no momento certo, completando o pensamento do irmão.

Essa sintonia entre os dois parece se igualar à força da empatia que despertam no público. Um caso raro nas artes visuais, Osgêmeos estão entre os poucos artistas plásticos que conseguiram despertar a devoção das massas, rompendo as barreiras elitistas dos museus e das galerias.

"Eles têm uma popularidade que poucos têm", diz Baixo Ribeiro, da galeria Choque Cultural e um dos pioneiros no mercado da chamada arte de rua no país. "Eles foram os primeiros a entender a amplitude de sua própria obra."

Logo, o mercado também entendeu. Osgêmeos se tornaram a menina dos olhos de departamentos de marketing e já emprestaram suas criações para grifes como Nike, Louis Vuitton e Hermès.

Na última operação do gênero, pintaram um avião da Gol, com direito até a latinhas de spray usadas na obra enviadas a jornalistas culturais.

"É normal que queiram usar nosso trabalho, que é muito visual", diz Otávio. "A gente continua sendo os mesmos caras. A fama é só consequência do trabalho", completa Gustavo. "Acreditamos no nosso universo paralelo."

'SONHO LEVE E FELIZ'

Críticos de arte também acreditam, mas em geral são estrangeiros. Enquanto a acolhida no Brasil é tímida entre acadêmicos, Roberta Smith, do jornal "The New York Times" enxergou na obra da dupla "um sonho leve feliz".

"É um trabalho visceral e alegre", diz Pedro Alonzo, curador de uma grande mostra da dupla em Boston há dois anos. "Mas, com isso, eles acabam alienando os intelectuais. E não fazem questão de agradar a elite, senão pintariam só quadrados e círculos como os neoconcretistas."

Nesse ponto, Alzonzo vai mais longe e compara a estratégia blockbuster da dupla à teatralidade dos gestos de Michelangelo durante o Renascimento, que fazia estripulias para conquistar o papado.

"É como a se a vida fosse um teatro", diz Otávio. "E todos nós fazemos parte desse espetáculo."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página