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Obra de Picasso será transferida em NY

'La Tricorne', peça de tapeçaria pintada pelo espanhol há 95 anos, deixará saguão do restaurante Four Seasons

Decisão de proprietário de edifício que abriga cortina avaliada pela Christie's em US$ 1,6 mi criou controvérsia

CHARLES V. BAGLI DO "NEW YORK TIMES"

Uma das maiores e mais públicas obras de arte de Nova York está sendo encaminhada a um novo lar.

Um pano de fundo teatral de 5,70 m por 6 m, pintado por Pablo Picasso, tinha posição central em uma disputa antiga entre a New York Landmarks Conservancy, que zela pelo patrimônio histórico da cidade e é dona da obra, e Aby Rosen, proprietário do Seagram Building, um edifício tombado pelo patrimônio histórico que abriga a peça de Picasso desde 1959.

Rosen, figura proeminente nos imóveis e na arte, queria remover a peça, mas autoridades de preservação temiam que a obra pintada há 95 anos e conhecida como "La Tricorne" fosse frágil demais para ser transferida.

O meio artístico, os magnatas dos imóveis e os interessados em preservação do patrimônio histórico tomaram partido, enquanto as duas partes iam à Justiça.

Rosen saiu perdedor em termos de atenção da mídia internacional, com comentaristas lastimando o destino do que descrevem como "uma das maiores obras, de um dos maiores artistas" --um resenhista, porém, não parece entender bem o motivo de tanto barulho, afirmando que a cortina não passa de "um Picasso de segunda".

NOVA CASA

Depois de semanas de negociação, Rosen e Peg Breen, presidente da Conservancy, chegaram a um acordo esta semana sob o qual a obra de Picasso será transferida à New York Historical Society.

Lá, a maior obra de Picasso existente nos Estados Unidos se tornará peça central da galeria abrigada pelo segundo andar da sede da sociedade.

"Será excelente para nós mostrar a peça como obra de arte e como artefato de sua era e lugar", diz Louise Mirrer, presidente da sociedade. "Nova York é uma cidade de demolição e reconstrução incessantes. E nós abrigamos os artefatos dos diversos passados que desapareceram".

A sociedade histórica serve como uma espécie de gigantesco sótão para abrigar a história da cidade, com dois milhões de manuscritos, 500 mil fotografias e 432 aquarelas de John James Audubon.

Rosen, presidente do Conselho de Artes do Estado de Nova York e proprietário de coleção de arte avaliada em mais de US$ 500 milhões, pagará pelo delicado trabalho de remoção da obra de uma vitrine em um corredor do restaurante Four Seasons, no edifício Seagram. O empresário, que não quis se pronunciar, também pagará pela limpeza e restauração da peça.

Breen disse que estava grata por a sociedade histórica ter se oferecido para salvaguardar a obra e agradeceu a Rosen pela assistência.

ORIGEM

A cortina, pintada por Picasso para o empresário do balé Serge Diaghilev e o Ballets Russes, em 1919, está vinculada ao Four Seasons desde que o restaurante foi inaugurado, em 1959. A Christie's a avalia em US$ 1,6 milhão. Phyllis Lambert, filha de Samuel Bronfman, fundador do império Seagram de bebidas alcoólicas, adquiriu a peça em 1957, quando estava envolvida no projeto do edifício e do restaurante.

O Four Seasons, decorado com muitas obras de arte moderna, rapidamente se tornou o local de almoço preferido de celebridades e gigantes da indústria. Ela e o arquiteto Philip Johnson penduraram a cortina pintada por Picasso em uma parede que conecta os dois salões de refeições do restaurante.

Lambert está insatisfeita com a solução do caso. "Isso parte meu coração, de certa forma", ela diz.

A Vivendi adquiriu a Seagram, incluindo a coleção de arte da companhia, em 2000, mais ou menos o mesmo momento em que Rosen comprou o Seagram Building.

Mais tarde, a Vivendi, em crise financeira, colocou toda a coleção de arte da Seagram à venda, mas Lambert convenceu a companhia a doar a cortina de Picasso à Conservancy.

DISPUTA

Em novembro do ano passado, Rosen notificou a Conservancy de que pretendia remover a obra para consertar um cano de vapor que estava vazando na parede por trás da cortina. Ao mesmo tempo, ele começou a negociar com os proprietários do restaurante, que acredita necessitar de uma modernização.

A Conservancy recorreu à Justiça, alegando que o vazamento era só uma desculpa para remover permanentemente a obra.

Rosen já esteve envolvido em muitas outras controvérsias sobre arte e recentemente causou protestos quanto a outra questão, em Old Westbury, Nova York, depois de colocar diante de sua casa uma escultura de uma mulher nua com dez metros de altura, de Damien Hirst.

A cortina será primeiro transferida a um restaurador, para limpeza e reparos. A sociedade histórica planeja tê-la instalada em maio.

"Que a peça tenha um bom lar é realmente um final feliz", diz Breen.


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