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Emissora recorre ao anti-herói para tentar o sucesso
DE SÃO PAULOA descoberta da figura do anti-herói pela TV americana levou a teledramaturgia dos EUA a uma nova era de ouro.Agora é a vez da TV Globo tentar a estratégia.
O protagonista de "Império", José Alfredo, também chamado de "Comendador", não é flor que se cheire. Já matou --ainda que em legítima defesa-- e traficou diamantes para construir o império que dá nome à novela. Segundo seu intérprete, Alexandre Nero, acabou endurecido pela vida, sério e grosso.
O ator recebeu diversas referências para preparar seu personagem.
Da cúpula da emissora vieram o livro "Homens Difíceis", do jornalista americano Brett Martin (editora Aleph, 2014), que disseca séries americanas protagonizadas por anti-heróis, e a indicação do filme "O Leão no Inverno" (1968), no qual o ator Peter O'Toole faz um rei que vê o trono sendo disputado por toda a família.
"É a base da história. Meu personagem lida com a mulher e os filhos disputando seu reino, enquanto tenta defendê-lo", diz Nero, que vive seu primeiro protagonista.
A mulher é interpretada por Lilia Cabral, e os filhos, por Caio Blat, Andreia Horta e Daniel Rocha de Azevedo.
Segundo o ator, o uso de um anti-herói pela emissora não é um reflexo do bom momento da dramaturgia americana, mas um resgate.
"Macunaíma, criado pelo Mário de Andrade, era um anti-herói, assim como o Roque Santeiro, do Dias Gomes, e o Carlão, de Pecado Capital'. É um personagem imperfeito e corruptível, que se aproxima do humano", afirma.
Nero vê semelhanças entre seu personagem e o do filme "Cidadão Kane" (1941), de Orson Welles: um homem de passado pobre que se tornou poderoso, mas sofre de uma nostalgia doentia.
"Tudo o que quer é o brinquedinho da infância. Tem saudades do tempo em que ficava olhando para o céu."